O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) está mesmo empenhado em concorrer à Presidência da República em 2018. Já faz campanha aberta, quase dois anos antes do prazo permitido por lei, e tem até slogan provisório: “Vamos endireitar o Brasil”, um trocadilho para reafirmar sua posição política. Mas sua candidatura não será mais pelo Partido Social Cristão. Ele rompeu com o presidente do PSC, pastor Everaldo Pereira, que foi candidato ao Planalto em 2014, assustou dirigentes da sigla com seu radicalismo político e já negocia sua filiação a outras legendas.
O parlamentar já conversou com dirigentes e parlamentares de várias siglas. Entre elas, o PR, o PRB do prefeito eleito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, e até o DEM, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Os partidos estão de olho no potencial de votos do deputado para cumprir a cláusula de desempenho que um partido deve ter para poder existir, projeto que deve ser aprovado no Congresso para valer já na próxima eleição.
Há várias semanas Bolsonaro não conversa com a direção do PSC. Há um constrangimento no partido com o estilo agressivo do parlamentar e com o processo que ele responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por apologia ao estupro. O próprio Everaldo reconhece que o deputado é difícil no trato pessoal e político, mas alega que Bolsonaro defende as mesmas ideias de gestão pública pregadas pelo PSC e por isso era bom para o partido e seu eleitorado conservador e religioso.
Majoritariamente evangélico, conservador quanto ao comportamento e liberal nas teses econômicas, o PSC apostava todas as suas fichas no potencial do polêmico parlamentar para melhorar seu desempenho eleitoral. Em uma jogada de marketing, o pastor Everaldo chegou a levar o deputado, que é católico, para ser batizado no Rio Jordão, em Israel. Mas nem mesmo o batismo no local histórico impediu o racha.
Treinamento
Para tentar domesticar o seu comportamento, o PSC pagou um curso de media training para Bolsonaro com a consultora de imagem Olga Curado. A mesma que cuidou da imagem eleitoral dos ex-presidentes Lula e Dilma, e de personalidades como o apresentador de TV Gugu Liberato. O deputado aprendeu várias técnicas para conceder entrevistas, fazer discursos mais compreensíveis e amenizar seu estilo excessivamente agressivo. Parecia tudo bem.
A gota d’água do rompimento de Bolsonaro com o PSC foi a aliança que o partido fechou com o PCdoB no Maranhão nas eleições municipais de outubro. Bolsonaro não pode nem sonhar com a palavra comunismo. Muito menos admite que seu partido apoie legendas deste segmento ideológico ou de esquerda. A aliança comuno-cristã em São Luiz possibilitou a eleição de três vereadores comunistas e um evangélico.
Quando soube do acordo eleitoral, Bolsonaro foi à sede da sigla no Rio de Janeiro e, aos gritos, disse que não admitia esse tipo de aliança. O deputado considera que o programa político do PCdoB, que defende bandeiras como a descriminalização do aborto e do consumo de maconha e apoia o casamento gay, são incompatíveis com o que ele prega.
A campanha do filho Flávio, deputado estadual e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, também afastou o deputado do PSC. Bolsonaro foi repreendido pelo pastor Everaldo porque recusou, aos gritos, a ajuda da deputada Jandira Feghalli (PCdoB), que é médica, quando Flávio desmaiou durante um debate na TV e a concorrente foi ajudá-lo. A repreensão de Everaldo irritou Bolsonaro.
Outro desentendimento entre o deputado e o PSC ocorreu quando Bolsonaro gravou um vídeo recusando as doações em dinheiro para a campanha do filho no Rio de Janeiro, pedida pelo partido. A direção da legenda se queixa que o parlamentar não aceita orientação partidária, não gosta de trabalhar em conjunto e é considerado personalista. Bolsonaro avisou que pretende criar um sistema pessoal de arrecadação para a campanha, o que é proibido por lei, mas o PSC é contra.
Doações
O deputado também é o sonho da bancada evangélica na Câmara para ser o puxador de votos nas eleições de 2018. Aliados do deputado no Congresso garantem que, se ele deixar o PSC, levará consigo vários outros colegas da legenda, entre eles o pastor Marco Feliciano (SP), líder da bancada de oito deputados na Câmara, e o líder do governo na Casa, André Moura (SE).
Militar da reserva, o deputado já foi vereador no Rio de Janeiro. Na década de 1980, quando era capitão, foi expulso do Exército por incitar os colegas a fazer uma rebelião por aumento do soldo. Ele está no sétimo mandato, atua como uma espécie de sindicalista da caserna e defensor da ditadura militar (1964-1985).
Bolsonaro deverá deixar o PSC ainda este ano e levará consigo os filhos Eduardo, deputado federal eleito por São Paulo, Carlos, vereador mais votado no Rio, e Flávio, deputado estadual fluminense derrotado na eleição municipal no Rio.
Com o fim das coligações proporcionais, proposta discutida pelo Congresso, e sem um puxador de votos, o PSC corre o risco de não cumprir a cláusula de desempenho a ser implantada e voltar a ser um partido nanico.
Fonte: Congresso em Foco