O preço da carne bovina deve subir cerca de 7,9% no último trimestre de 2024, segundo a consultoria LCA, o maior aumento para este período desde 2020. Esse aumento impacta diretamente os consumidores, além de complicar o trabalho do Banco Central, que tenta controlar a inflação com a elevação da taxa de juros.
Frigoríficos como a JBS enfrentam alta nos custos do gado, que atingem o maior nível em quase três décadas. O valor do boi gordo, indicador essencial para o mercado de carne, subiu 33% nos últimos dois meses, afetado por uma seca severa que reduz a oferta de animais para abate.
Esse cenário representa um desafio para o Banco Central, que recentemente aumentou a taxa Selic para 11,25% na tentativa de conter a inflação. A carne bovina, que influencia também o preço de outras proteínas como frango e carne suína, é um item importante na dieta dos brasileiros e afeta significativamente o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durante sua campanha de 2022 prometeu reduzir o preço da carne, a alta pode ser um ponto sensível. A demanda por carne costuma crescer no fim do ano, período de confraternizações e pagamento do décimo terceiro salário, pressionando ainda mais os preços.
Andrea Angelo, estrategista da Warren Rena, projeta que os preços da carne bovina subirão 8% em 2024 e mais 14% em 2025. A consultoria Datagro também prevê uma queda na oferta de gado nos próximos anos, o que poderá manter a carne como uma das principais fontes de pressão inflacionária.
O aumento nas exportações brasileiras de carne, incluindo para os EUA, também contribui para essa escassez. As exportações saltaram 31% em 2024, com o real desvalorizado favorecendo as vendas internacionais. Ao mesmo tempo, frigoríficos e varejistas brasileiros lidam com a dificuldade de repassar os custos ao consumidor final.
Enquanto especialistas divergem sobre a persistência desse cenário, Edison Ticle, diretor da Minerva, maior fornecedora de carne bovina da América do Sul, acredita que o aumento é sazonal e tende a diminuir. Além disso, avanços na genética e alimentação de rebanhos podem suavizar a escassez de carne a longo prazo, afirma ele.
Leonardo Alencar, chefe de agro na XP, aponta que produtores e varejistas estão sendo pressionados pela alta do gado, mas o impacto dependerá da capacidade de absorção dos consumidores diante dos preços cada vez mais elevados. As informações são do O Globo.