“Pior do que ter números ruins, é não poder confiar neles”, alertou o presidente do PSDB/TO, senador Ataídes Oliveira, nesta quarta-feira (6), durante audiência pública sobre a metodologia de cálculo da taxa oficial de desemprego. A audiência, com representantes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese), do Ministério do Trabalho, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), foi realizada a pedido de Ataídes, para esclarecer possíveis distorções que inflam o número de pessoas ocupadas no Brasil.
“A audiência deixou claro o que venho martelando há tempos: a metodologia oficial vem subestimando a taxa de desemprego no país, na verdade muito maior do que os 11,2% divulgados pelo IBGE”, resumiu o senador, ao final do evento na Comissão de Meio ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle (CMA) do Senado.
Seguro-desemprego
Entre os vários pontos questionados por Ataídes, estão a não inclusão, entre os desocupados, dos jovens nem-nem, que nem estudam nem trabalham, e também dos trabalhadores que vivem apenas de “bicos” eventuais. “É absurdo apontar como ocupado alguém que trabalha uma hora por semana”, ponderou o senador. Os nem-nem, segundo ele, são “uma força robusta de trabalho, que precisa urgentemente ser incorporada ao mercado”.
Outra distorção, na visão de Ataídes, é considerar como ocupados parte dos beneficiados com seguro-desemprego. “O IBGE assegura que segue as normas da Organização Internacional do Trabalho. Mas resolução da OIT diz, com todas as letras, que pessoas que recebem transferências não relacionadas a emprego devem ser excluídas do conceito de emprego. Transparência tem que ser palavra-chave nas estatísticas oficiais”, defendeu.
Mudança
Boa notícia, para o presidente do PSDB/TO, foi a informação dada pelos representantes do IBGE de que, a partir de novembro, a metodologia da pesquisa será alterada para incluir dados completos sobre a subutilização da mão de obra – entre eles o número de trabalhadores que vivem de bicos eventuais e dos chamados “desalentados”, que desistiram de procurar trabalho nos 30 dias anteriores à pesquisa. Os representantes do IBGE e do Dieese reconheceram que, considerados os novos dados de subutilização da mão de obra, o cenário atual do mercado de trabalho deverá se mostrar bem mais sombrio.
“Nossa expectativa é que possamos ter uma radiografia real do desemprego no Brasil. Essa transparência é fundamental para que o governo possa traçar políticas públicas eficazes de combate ao desemprego, a face mais dramática da crise econômica”, acentuou o senador. Ele observou, ainda, que empresários e empreendedores precisam trabalhar com dados realistas para poder investir e gerar emprego e renda no país.
Participaram da audiência André Gambier Campos, técnico de planejamento e pesquisa do IPEA; Antônio Ibarra, assessor técnico do DIEESE; Mário Magalhães, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Trabalho; Claudio Crespo, assessor da Diretoria de Pesquisas do IBGE; Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE; e Anne Caroline Posthumá, da OIT.