Elisama Silva teve uma infância solitária. No último ano do ensino fundamental, a garota finalmente encontrou um grupo de amigas no qual se encaixava, mas a alegria durou pouco. Ao iniciar o ensino médio, elas foram colocadas em outra turma e apenas Elisama permaneceu em sua classe. “Ali eu parei para perceber que a minha vida tinha que ser sozinha, que eu deveria me acostumar com isso”, ressalta.
Esses pensamentos fizeram com que a garota começasse a cobrar demais de si mesma. “O perfeccionismo começou a me atacar. Para não depender de ninguém, eu precisava ser ótima em tudo”, pontua. Ao perder as lentes de contato, suas notas começaram a cair. O medo de ser repreendida pelos pais a impedia de contar sobre a perda. “Comecei a fazer uns riscos no meu braço como se eu estivesse me cortando, porque tinham umas pessoas da escola que faziam isso e, aparentemente, era para se sentirem aliviadas”.
E foi aí que o caminho de Elisama para a automutilação começou. A jovem conta que enquanto não fosse perfeita, não pararia de se cortar. Porém, ao contrário do que pensava, o sofrimento só aumentava. “[Eu tinha] pensamentos confusos de que nunca seria importante, de que jamais seria feliz, de que nada do que eu fizesse ajudaria a mudar isso, que sempre teriam razões para me cortar. Eles faziam eu me sentir sufocada, culpada. Acabavam me estressando muito, ficava ansiosa e com medo. Então, achei que seria melhor acabar com todo esse sofrimento psicológico de uma vez por todas. O escape seria o suicídio”, confessa.
Em busca de uma solução definitiva
Elisama chegou a tentar mais de uma vez. Até que um dia compartilhou sua angústia com uma moça de sua igreja, que não ficou de braços cruzados e decidiu marcar uma consulta com um psicólogo para a garota. O pastor, ao ficar sabendo do caso, também ajudou na busca de um bom profissional da área.
Aliado ao tratamento psicológico, envolver-se em atividades missionárias também ajudou Elisama a encontrar a cura. “O caminho foi penoso. Procurei boas maneiras de ocupar meu tempo e mente. Participei da Missão Calebe 2017 e da colportagem[venda de livros e revistas cristãs]”. Atualmente, ela compartilha sua história para que outros adolescentes não precisem passar pela mesma situação.
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Segundo a psicóloga Rosely Montin, estudos têm mostrado que a participação em instituições religiosas é uma forma de prevenção e constitui-se em fator de proteção. “Em momentos de crise, a própria igreja fornece uma rede de proteção através da convivência, dos cultos e das atividades. A igreja pode ajudar justamente reconhecendo seu papel e sua relevância. Nós, enquanto membros, temos que estar atentos às necessidades e aos sofrimentos que emergem dentro do grupo e buscar envolver essas pessoas, buscar saber o que elas gostam de fazer e como poderíamos envolvê-las nas atividades para que não se sintam tão só. E, assim, ressignifique seu propósito de vida”, explica.
De porta em porta
Até junho deste ano, mais de 800 tentativas de suicídio foram registradas no Distrito Federal. Desses casos, 41 resultaram em mortes. A depressão é apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das principais causas. No mundo, mais de 300 milhões de pessoas sofrem da enfermidade, que será a segunda maior causa de morte mundial por doença até 2020. Para alertar quanto ao fenômeno, neste ano o projeto Quebrando o Silêncio tem atuado em escolas, trabalhado a temática com pais e alunos, realizado passeatas e ido até mesmo de casa em casa para falar sobre o assunto.
Alerta à comunidade
Neste ano foram distribuídos 70 mil materiais em todo o Distrito Federal, incluindo revistas e folhetos para o público adulto, infantil e adolescente. Segundo Mara Martins, diretora do projeto no Planalto Central, os membros da Igreja Adventista na localidade se engajaram.
“Por ser um tema necessário, eles sentiram a necessidade de levar a orientação recebida para outras pessoas, como famílias que também estão necessitando aprender a valorizar a vida e serem felizes. Quando vemos as estatísticas referentes ao suicídio, ficamos alarmados e muitos desses números estão próximos de nós. Por isso a importância de aprender e compartilhar esperança para os outros que necessitam dela para viver”, reforça.
Mas é preciso estar atento ao oferecer ajuda. Rosely explica que projetos como este podem ajudar quando o tema é tratado da maneira correta. Para isso é necessário fazer um mapeamento da rede para onde direcionar a pessoa que busca ajuda. “As pesquisas têm mostrado que a campanha pode aumentar a demanda em até 40%. Quando não há um mapeamento da rede de acolhimento para essas pessoas, a campanha se torna geradora de risco”, alerta a psicóloga.
Encontrar pessoas que souberam auxiliar Elisama foi essencial. “Nas horas difíceis, Deus colocou as pessoas certas em minha vida. A própria palavra de Deus e canções inspiradas também soaram forte em meu coração e consciência”, assegura.
Com informações Notícias Adventistas