Na noite em que a capital do Afeganistão, Cabul, foi tomada pelo Talibã, em algum lugar da cidade, uma menina nasceu, filha de pais cristãos. Ela entrou no mundo em um país que está em tumulto, onde cristãos e outras minorias religiosas vivem com medo, e onde as mulheres, em particular, são extremamente vulneráveis.
No domingo, 15 de agosto, o Talibã, um grupo militante islâmico, tomou o controle do Afeganistão após 20 anos de presença de forças internacionais no país. Um comandante do grupo disse ao portal de notícias Reuters que eles iriam reafirmar a lei sharia (conjunto de leis islâmicas), e as mulheres temem por si e pelo futuro das filhas. A última vez que o Talibã esteve no poder, mulheres foram banidas do local de trabalho e meninas, das escolas, além de uma série de outras restrições. E agora, novamente, elas se sentem expostas.
Essa vulnerabilidade é ainda maior quando se trata de minorias religiosas, como os cristãos. “Deixar o Islã é considerado vergonhoso, punível com a morte sob a lei islâmica e a maioria dos cristãos enfrenta consequências terríveis se expostos: ou eles têm que fugir do país ou serão mortos”, de acordo com o relatório do país feito pela Portas Abertas. Há anos o Afeganistão é o segundo colocado na Lista Mundial da Perseguição, que traz os 50 países onde é mais difícil viver como cristão.
Manto de silêncio
A Portas Abertas detalha algumas das pressões adicionais que as mulheres enfrentam no Afeganistão. O encarceramento por família ou prisão domiciliar é um meio invisível e aceitável de colocar uma mulher cristã sob pressão, assim como a ameaça de se divorciar dela. As mulheres podem ser vendidas como escravas ou como prostitutas, espancadas ou maltratadas sexualmente.
“Há um manto de silêncio em torno de qualquer tipo de violação do espaço e da dignidade de uma mulher. Um manto que poderia ser comparado à burca, uma mortalha que esconde uma narrativa devastadora da destruição de milhões de mulheres afegãs, mas que em 20 anos, se a situação persistir e piorar, não será mais capaz de trazer a esperança e a iluminação da educação para as gerações futuras”, compartilha um parceiro da Portas Abertas.
Perseguição a mulheres cristãs é ainda mais severa
Pela primeira vez, a perseguição às mulheres cristãs (diferente da perseguição a homens) foi examinada pelos analistas da Lista Mundial da Perseguição. A lista, compilada pela Portas Abertas, pesquisa mais de 50 países onde os cristãos são mais perseguidos.
A pesquisa “Os Perfis de Perseguição de Gênero” revela uma surpreendente exploração em múltiplas camadas das vulnerabilidades estruturais das mulheres cristãs: elas são expostas a quase o dobro de fatores de perseguição que os homens cristãos.
O estudo mostra ainda que 83% das mulheres em todo o mundo se identificam com um grupo religioso, em comparação com 79% dos homens. Outro dado levantado pelos pesquisadores da Lista Mundial da Perseguição mostra que, de todas as fés, o cristianismo é o grupo religioso mais perseguido: cerca de 245 milhões de cristãos experimentam “níveis extremos, severos e altos de perseguição”.
Este ano, a equipe da Lista Mundial da Perseguição pesquisou e concluiu o que poucos, mesmo na igreja livre de perseguição, querem reconhecer: que as complexas pressões que as mulheres cristãs experimentam regularmente são as mais cruéis e bem diferentes do que a que os homens são submetidos.
Durante entrevistas e observação a grupo de mulheres nos mais diversos países, grande número de pressões “comuns” listadas pelas mulheres em relação aos homens é quase significantemente ímpar. Em contextos onde as mulheres já estão em desvantagem, em países em que são obrigadas a se manter à margem da sociedade, as mulheres cristãs são especificamente e mais frequentemente alvo de três táticas de coerção, violência e perseguição: casamento forçado, estupro (muitas vezes coletivo) e outras formas de violência sexual.
Os pesquisadores encontraram um exemplo claro dessa dinâmica de perseguição no Uzbequistão, bem como outros da Ásia Cental, como Paquistão e Afeganistão, onde “a submissão total é esperada das mulheres para seus pais e se casadas, para seus maridos”. A pressão não vem apenas da família, mas também do Estado e, para os fiéis ortodoxos, da Igreja: “Isso as torna mais vulneráveis à perseguição – tanto como cristãos quanto como mulheres que desafiam a ordem existente. Mulheres e meninas cristãs sofrem abusos verbais e físicos, ameaças, espancamentos, detenções, interrogatórios, multas, prisão, perda de emprego, discriminação, excomunhão, prisão domiciliar, casamento forçado, violência familiar e estupro, vergonha, divórcio e perda de bens.
Baseada nos resultados dessa pesquisa, diante da conclusão perturbadora de que as mulheres cristãs são expostas ao dobro de fatores de perseguição que os homens, a Portas Abertas está trabalhando para fortalecer as mulheres perseguidas pela fé, criando campanhas e dispositivos de auxílio principalmente das mais vulneráveis, como viúvas, mulheres solteiras e meninas.
Então, o que o futuro reserva para a garotinha cristã em Cabul? Os pais da recém-nascida disseram ao parceiro local da Portas Abertas que sentiram que o nascimento da filha era um sinal de que Deus não havia desistido do país.
Como publicado em um artigo da National Review, “Deus se preocupa profundamente com as mulheres, e nós também. Nossa vontade de defender as pessoas mais vulneráveis e marginalizadas fala muito ao mundo sobre quem Deus é e com o que ele se importa”.
Assim como os seguidores de Cristo no Afeganistão, mais de 340 milhões de cristãos em todo o mundo enfrentam dificuldades em meio a crises e conflitos, aumentando a vulnerabilidade deles. Através da sua doação, você auxilia cristãos e cristãs em países onde eles são mais vulneráveis a terem as necessidades básicas supridas.
Pedidos de oração
- Agradeça a Deus por essa nova vida e clame pela segurança e futuro da menina enquanto ela começa a vida sob o domínio do Talibã.
- Ore para que a população cristã no Afeganistão seja protegida e fortalecida durante esse período incerto e de perseguição.
- Interceda para que Jesus dê sabedoria e coragem aos líderes internacionais para defender os mais vulneráveis especialmente os direitos das mulheres e meninas de crenças minoritárias.