Da redação JM
A Gaviões da Fiel está sendo processada por seu último desfile no carnaval de São Paulo. O advogado Carlos Alexandre Klomfahs alega que a escola ‘desrespeitou o símbolo e a religião cristã’ ao apresentar em sua comissão de frente uma disputa entre duas figuras religiosas, Jesus e o diabo, na qual, aparentemente a figura cristã é vencida pela representação maléfica.
A ação foi distribuída ao juízo da 26ª Vara Cível da Capital.
A escola ligada ao Corinthians fez uma releitura de um samba-enredo de 1994, ‘A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente’, sobre a história do tabaco.
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Na ação, o autor diz ter requerido à Gaviões que se ‘retratasse em 24 horas sobre o tema do enredo escolhido para sua Escola que apresentou a figura cristã de maior relevo ao cristianismo – Jesus Cristo – sendo vencido e humilhado por satanás em nítido desrespeito ao sentimento religioso do autor e de milhões de brasileiros cristãos’, mas não obteve resposta.
Após a repercussão, a escola publicou em suas redes sociais uma imagem do desfile na qual Jesus aparenta vencer o Diabo com os dizeres ‘Jesus venceu o mal. Ele vive’.
O advogado pede que a Gaviões da Fiel seja obrigada judicialmente à ‘imediata retratação pública à comunidade cristã de todo Brasil, sob pena de multa diária de 30 mil reais’.
Em seu argumento, Klomfahs retoma um acórdão do STF de 2003 sobre a liberdade de expressão.
Na ocasião, o Supremo decidiu sobre livros nazistas e crime de anti-semitismo.
O advogado cita trecho da decisão escrita pelo então ministro Maurício Corrêa, “Liberdade de expressão é uma garantia constitucional que não se tem como absoluta. Há limites morais e jurídicos. O direito à livre expressão não pode abrigar manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos pela própria constituição.”
De acordo com o advogado, ‘a imoralidade surge quando se utiliza de uma figura religiosa, seja Cristã, do Islã, quer Maria, quer Jesus, seja Buda ou Zoroastro, e desfigura-lhe de seu papel de vencedor do bem sobre o mal e impõe-lhe o estigma de perdedor, exaltando a vitória do mal sobre o bem, isto é, tudo que há de pior na espécie humana é exaltada, festejada propondo adesão, forçoso é concluir que o resultado pretendido racionalmente é exatamente propagar o mal, violar o sentimento religioso e por isso ultrapassar os limites da liberdade de expressão’.
A escola
“Diante do grande debate em relação à coreografia da Comissão de Frente, esclarecemos que:
Somos uma comunidade de mais de 115 mil sócios de diferentes religiões e que dentro e fora da nossa entidade, todos foram e serão sempre respeitados, sem distinção, discriminação e diferenciação por suas escolhas religiosas.
Levantaremos sempre a bandeira de que O BEM SEMPRE VENCERÁ O MAL. Apesar das cenas de entrada de Jesus serem dele numa posição inferior, as cenas que antecedem a sua sua saída na coreografia representa o seu poder para acabar com a guerra, deixar a paz e abençoar à todos.
E por último, apresentamos a explicação da apresentação da Comissão de Frente, a história que foi criada para compor o enredo, pois as poucas imagens da transmissão do desfile não auxiliaram na interpretação do público.
Comissão de Frente
A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente
Conta a liturgia da fé cristã que Santo Antão – cristão fervoroso, eremita, pregador no deserto, vivia atormentado pelas tentações do Diabo, mas como pastor de fieis peregrinos mantinha sua fé inabalável. Com mensagens do Arcanjo Miguel, enviado por Deus, dedicou a vida a levar a mensagem de Cristo pelas áridas e desérticas paragens do Norte de sua África natal. Testado constantemente pelos soldados do mal, teria se deparado com uma serpente. Frágil, cansada, combalida… Caridosamente acolhida pelo religioso. O santo dela tratou, alimentou, amparou. Mas fora traído. Com o ímpeto de um gavião altivo e real, que não aceita traição, Santo Antão livrou-se da traiçoeira serpente e, com a luz dos anjos do bem, extraiu o seu veneno. Chupou a ferida em seu braço. Cuspiu no solo infértil e ali surgiu – de forma mágica e vigorosa – ramos de tabaco. Assim teria surgido o tabaco e prevalecia a fé em Jesus Cristo!”