Com a vida moderna cada vez mais agitada por compromissos de trabalho e estudo, aumenta a dificuldade de reunir a família em torno de uma mesa para as refeições e, mais ainda, para o benéfico culto doméstico. Mas será que falta tempo ou disposição para isso?
“A igreja do Senhor começa em casa, todos unidos até o Senhor voltar”. Esse trecho de uma canção entoada pela cantora Cassiane nos chama a atenção para a importância da vida devocional em família.
Popularmente conhecido como culto doméstico, o devocional no lar é muito importante para a integração da família e para o crescimento espiritual de todos, inclusive, da Igreja. Mas, convenhamos, o estilo de vida que levamos não ajuda na realização dele.
O culto doméstico é um tesouro perdido na vida da maioria do povo de Deus. Essa perda tem profundas e tristes conseqüências. Ela aponta uma perda de profundidade no relacionamento com Deus e também um enfraquecimento da comunhão familiar.
O mundo contemporâneo sofre uma perda de critérios e valores. As coisas urgentes tomaram o lugar das coisas importantes. Pare para analisar: corremos atrás do vento e gastamos toda a nossa energia buscando as coisas que perecem e deixamos de buscar as coisas lá do alto, aquilo que permanece para sempre. Somos esmagados debaixo de um rolo compressor chamado secularismo, somos vítimas da ditadura de uma agenda que empurra o que é espiritual para a lateral da vida pessoal.
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Mas um dos maiores benefícios da devocional em família é nos corrigir nesse aspecto. O culto doméstico corrige a prioridade do nosso relacionamento com Deus. Precisamos buscar o Reino de Deus em primeiro lugar e o culto doméstico abre esse caminho para priorizarmos nossa relação com Deus acima de quaisquer outros interesses.
Não podemos deixar de considerar que o culto doméstico galvaniza os valores de Deus em nossa vida. A marca da nossa sociedade é a superficialidade. Vivemos uma geração que anda errante por ter abandonado os princípios e os absolutos de Deus.
Na era da comunicação e da explosão do conhecimento, vemos uma geração analfabeta da Bíblia e a perda dos critérios bíblicos está produzindo uma geração entregue ao relativismo moral. Sem conhecimento da verdade não há como construir uma sociedade justa. A família é a base de todos os outros relacionamentos horizontais. Se a família estiver sem critérios, a sociedade vai se perder nos labirintos da permissividade.
BASE BÍBLICA
O culto doméstico tem suas raízes no próprio Deus ao criar o ser humano para ter íntima comunhão com Ele. Foi plano de Deus que esse ser criado formasse família e juntos servissem ao Senhor com alegria. – plano esse seguido por Josué, conforme o capítulo 24:14-15: “Agora, pois, temei ao Senhor e servi-O com integridade e com fidelidade (…) eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.
Josué não faz da adoração ou do culto a Deus vivo algo opcional e diz que o Senhor quer ser adorado e servido voluntária e deliberadamente pelas nossas famílias. O profeta reforça o ato de culto a Deus nas famílias com o seu próprio exemplo. Fica claro que ele está se dirigindo aos cabeças das famílias – ele tem uma liderança de tal ordem sobre a sua família que ele fala por toda a sua casa.
É importante destacar que “servir” é uma palavra abrangente e se refere a muitos atos de adoração a Deus. Em muitas passagens bíblicas observamos o estímulo a adoração no lar. Como diz Deuteronômio 6:6-7: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 11:18-19).
Um texto paralelo no Novo Testamento é Efésios 6:4: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Por exemplo, Timóteo tirou grande proveito da instrução diária de uma mãe e de uma avó tementes a Deus.
Outro trecho importante é de Colossenses 3:16: Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”.
“É importante a família entender que ‘Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’ (Dt 8:3; Mt 4:4). Deus exige que O adoremos não apenas particularmente como pessoas, mas também em público como membros do corpo e como famílias. O Senhor Jesus é digo disso, a Palavra de Deus o ordena, e a consciência o reconhece como nosso dever. É necessário que os pastores estimulem as famílias a realizarem o culto doméstico como Abraão o fez: ‘Porque eu o escolhi’, disse Deus, ‘para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito (Gn 18:19)’”, disse o Pr. Adeilto Neres, da Assembléia de Deus em Santa Rita, Vila Velha.
FAMÍLIA
Um grande benefício do devocional em família é a comunhão familiar. A sociedade contemporânea está assistindo a degradação familiar inerte. O culto doméstico é um instrumento para a família fechar a agenda do urgente e abrir a agenda do importante. O culto doméstico mostra que a família que ora unida triunfa sobre as dificuldades.
“Quero encorajar as famílias da igreja a abraçar esse projeto de resgate do culto doméstico. Somos todos muito ocupados, mas temos tempo para tudo àquilo que nos é prioridade. Porque Deus e a família são prioridades para nós, devemos aderir sem reservas e sem desculpas a esse plano que certamente procede do coração de Deus”, destaca Adeilto Neres.
O pastor Neres destaca que sem a busca pela comunhão com Deus no lar a conseqüência é que muitas crianças crescem sem qualquer experiência ou impressão da fé cristã e do culto como uma realidade diária. “Por meio do culto doméstico Deus pode reavivar a Igreja”, disse.
O culto doméstico é um dos fatores mais decisivos de como vai o lar e na casa do casal Celso e Elisabeth Poganski a palavra de Deus sempre teve seu lugar. Com 23 anos de casados, os membros da Casa de Oração em São Torquato, Vila Velha, mantiveram a freqüência do culto doméstico durante todo o crescimento dos filhos Mariana e Guilherme.
Elisabeth, que é professora de música, e Celso, presbítero, sempre procuraram variar os cultos, trazendo histórias ilustrativas para os filhos e fazendo-os participar. “À medida que eles cresceram, fomos adaptando o modelo de culto, mas nunca deixamos de priorizar a Palavra e oração. Hoje com uma filha jovem e outro adolescente, estamos na fase da colheita, embora o Guilherme ainda esteja sob nossa atenção”, falou Elisabeth.
Na opinião dela, a vida do casal também ganha muito com a prática do devocional. “Temos experiências maravilhosas juntos. Nosso maior benefício é o relacionamento estável em que a comunicação é determinante. Costumo dizer que quem se comunica bem com Deus se comunica bem com o outro. Temos nosso devocional em família, como casal e em separado. Não abro mão dessa benção”.
O contabilista Magno Cardoso e sua esposa Renata reconhecem os benefícios do devocional no lar e procuram sempre estar juntos no período da noite. “Temos o Arthur, com nove anos, e para ele é muito importante. O educamos nos caminhos do Senhor e isso se reflete na educação dele como um todo: na escola e na vida social. Todos participam dos minutos de devocional e vejo ser muito importante para nossa integração e crescimento total”.
Se o assunto é a desculpa da falta de tempo, Elisabeth tem a resposta imediata: “Tempo há, o que não há é a definição do que é prioridade na vida. É importante praticar Mateus 6:33 e lutarmos contra os inimigos do culto doméstico, como a televisão”. Magno concorda: “Deus nos deu o tempo certo para tudo. Valorizamos nosso tempo juntos, porque isso agrada a Deus e sentimos as bênçãos do Senhor em nossas vidas. Quem se dispor a servir a Deus no lar não vai se arrepender e se surpreenderá”.
Boas lembranças é o que o Pr. Moiséz Lagarssa de Oliveira possui dos tempos em que participava do culto doméstico com seus pais e seus quatro irmãos. “Meu pai sempre nos estimulava a realizar o culto, nunca vimos isso como uma obrigação. Era um incentivo carregado de amor e desejo de nos ver crescer fortalecidos na presença do Senhor. Hoje, já adultos, todos estamos na igreja e podemos passar esse ensinamento para nossos filhos”.
Casado há 19 anos e pai de Jéssica Elaine, de 11 anos, o pastor Moiséz tem criado sua filha no mesmo propósito. “Temos nosso tempo junto, antes de dormir sempre oramos e Jéssica sabe do seu compromisso diante de Deus e de nós, pais. Vai chegar o momento em que ela vai dar continuidade e vamos continuar estimulando o tempo pessoal dela com Deus, ou seja, que ela tenha seu culto pessoal, assim como meu pai fez conosco quando, devido aos afazeres de cada um, já não foi mais possível reunir todos ao mesmo tempo para o devocional”, falou o pastor da Igreja Batista Betel de Porto Canoa, Serra.
O princípio do “eu e minha casa serviremos ao Senhor” vai muito além de ter todos os membros da família em comunhão numa igreja física. É dar exemplo de fé e busca pela intimidade com o Deus vivo.
Em II Timóteo 3:4-5 somos advertidos sobre pessoas que amam mais os prazeres “do mundo” do que a Deus. O tempo tirado das atividades e negócios familiares para se buscar a bênção de Deus jamais é ou será um desperdício. Afinal, fomos criados para a eternidade e orientados por Deus a “ajuntarmos tesouros no céu” e não na Terra. Como, então, não ter tempo para aquilo que será eterno em nossas vidas: a comunhão com Deus?
A adoração o Senhor no lar precisa ser valorizada por todas as gerações. A avalanche distorções morais que são jogados contra os lares, especialmente por meio da mídia, só pode ser combatida com a família unida em torno do altar da adoração a Deus. É melhor desligar o altar da televisão e acender o altar da adoração.
BREVE ROTEIRO PARA O DEVOCIONAL NO LAR
1º Cânticos de adoração e comunhão que todos gostem;
2º Leitura de pequeno trecho da Bíblia: cada dia, um membro da família deve ler, ou todos lêem alternadamente os versículos;
3º Um comentário rápido e significativo pode ser feito, enfatizando os pontos, aplicando-os à vida da família, sempre trazendo o tema sob a ótica atual;
4º Pedidos de oração: cada um pede por si e por outros;
5º Oração: uma só, por um membro da família. No próximo culto, outro membro da família a realiza.
FAMILIAR PARA ADOLESCENTES
Família reunida para o culto doméstico. Cena fácil para o adolescente dar uma desculpa qualquer e sair correndo. Mas os motivos de reações como essas são fáceis de identificar: o pai faz uma leitura bíblica longa estrategicamente escolhida para “alfinetar” os filhos, antes não conversam sobre um assunto em comum da semana, excesso de cerimônia, falta de música para alegrar… O adolescente de hoje está crescendo num mundo totalmente diferente daquele de seus pais e avós. Toda a sua base cultural é diferente e as práticas de culto julgadas próprias para gerações anteriores provavelmente deixam de impressioná-los. É hora de rever modelos e tornar o culto doméstico em um momento prazeroso para pais e filhos.
AÍ VÃO ALGUMAS DICAS:
- Focalize a família – antes da oração final, descubra o que aconteceu durante o dia. Demonstre interesse genuíno nas coisas que interessam aos adolescentes. Dê aos adolescentes alguma tarefa a desempenhar no culto – se houver crianças pequenas em casa, envolva seus filhos mais velhos, dando lhes a responsabilidade de cuidar dos cultos dos pequeninos. Desempenhar uma parte visível para significar toda a diferença nas atitudes para com o culto doméstico. As orações e apresentações deles provavelmente serão não convencionais, a ponto de parecerem absurdas. Quando isso ocorre, o fato de você aceitar ou não pode ser decisivo para a futura participação deles, ou sua disposição de colaborar.
- A Bíblia precisa continuar sendo a base – não devemos esquecer jamais a importância suprema das escrituras como nosso guia para conhecer a Deus. Os adolescentes acharão a Bíblia interessante se ela for apresentada de maneira sábia, na versão na linguagem de hoje. Use os livros da meditação matinal. Evite orações cansativas – seja específico em suas orações, como se estivesse conversando com o melhor amigo. Mencione cada um de seus filhos por nome e peça ajuda divina para as tarefas seculares que ocupam a cada um.
- Faça um culto breve – os jovens estão acostumados a obter informações em pequenas doses, mais ou menos na duração de um comercial de TV. O culto pode ter no máximo 10 minutos. Faça o culto no horário combinado – os adolescentes detestam fazer o culto numa hora em que gostariam de estar fazendo outra coisa. Adiar o culto para tarde da noite é um desastre, pois estará sempre associado ao cansaço. Prepare o ambiente para o culto, assegurando-se de que a possibilidade de tensão seja minimizada.
- Deixe de sermonear – os adolescentes ficam muito espertos e se ressentirão ao ouvir exortações sobre bom comportamento. Eles gostam de uma boa narrativa com apenas uma pequena dose de mensagem no final. Torne o culto relevante – o tema deve relacionar-se com as questões de interesse imediato com que se defrontam: emprego, justiça social, educação, sexualidade, drogas, sobrevivência etc. Para comunicar-se com os adolescentes a respeito desses temas, o adulto precisa ser habilidoso. Cristo é o modelo óbvio para os pais nesse aspecto. A maneira como Ele falava com as pessoas era informal e sem afetação.
- Se um tipo de culto não funciona, tente outro – não pense que você é um fracasso porque uma determinada abordagem não está funcionando. Os adolescentes apreciam os pais que estão preparados para conhecer a necessidade de alguma mudança. Discutam o assunto, sempre.
Por John Hammond