Por Anésio Júnior
O movimento pela criação do Tocantins teve início muitos anos antes da emancipação do Estado, que ocorreu em 1988. Lideranças políticas famosas estiveram na linha de frente, mas milhares de pessoas no anonimato atuaram com dedicação, firmeza e determinação. São os heróis esquecidos de uma luta conquistada com muito suor.
Muitos deles vieram de longe. Alguns morrem e não recebem em vida as homenagens merecidas, como o título de cidadão tocantinense, por exemplo, concedido a muitos forasteiros que por aqui passam, deixando pouca coisa de produtivo.
Sexta-feira, 27 de março, perdemos um desses guerreiros anônimos: Sérgio Motta. Ele assentou algumas centenas de tijolos para a construção deste Estado. Não era engenheiro e muito menos o mestre de obras, mas o pedreiro. Às vezes fazia também o trabalho de servente. Sérgio não fugia à luta. Trabalhava com eficácia e perfeição. Essa é opinião de vários políticos aos quais ele assessorou.
Sérgio Motta, um gaúcho de nascença, mas tocantinense de coração, conhecia o Estado como a palma da sua mão. Não foi à-toa que, por onde passou, deixou a marca do seu trabalho.
Nesses longos anos, ele assessorou políticos importantes como Moisés Avelino, Paulo Sidnei, Freire Júnior, Hudson Bandeira, Eduardo do Dertins, Raul Filho e tantos outros. Ocupou cargos estratégicos na administração pública, em quase todas as gestões, inclusive com Mauro Carlesse.
Com o saudoso companheiro Eudoro Pedroza, um dos políticos mais respeitados do Estado
Era de um caráter inquestionável. No governo Moisés Avelino ele coordenou o sorteio e distribuição de lotes na Vila União, em Palmas. Só no final, quando foram distribuídas todas as senhas, e embora de direito dele também, lembrou que não tinha nenhum terreno para construir sua residência na nova Capital. Ficou sem. Hilário, mas aconteceu.
Filiado ao PMDB histórico (hoje MDB), Sérgio Motta transitava bem em todas as correntes políticas. Era um conciliador. “Uma pessoa extraordinária. Deixou um legado na história deste Estado”, disse o senador Eduardo Gomes (MDB), ao falar sobre o amigo.
O ex-governador, Paulo Sidnei, também expressou o seu sentimento pela morte do companheiro. “Era mais do que um assessor, era um amigo. Muito atencioso, humano e extremamente, competente. Sua folha de serviços ao Estado é extraordinária”.
Derval de Paiva (MDB), ex-prefeito de Palmas e ex-deputado federal, sintetizou em poucas palavras a perda do amigo. “O Sérgio sabia ouvir e tinha sempre uma palavra de otimismo. Uma pessoa correta e, acima de tudo, confiável”.
História
Sérgio Motta chegou ao Tocantins ainda jovem. Seu pai, Ivo de Moura Rodrigues, deixou São Borja, no Rio Grande do Sul, na década de 60, a convite do seu irmão Ary Vargas da Motta, que administrava uma fazenda do ex-presidente da República, João Goulart, no município de Uruaçu, em Goiás. Os dois eram pessoas de confiança de Jango, deposto do cargo no golpe militar de 1964.
Tempo depois, Ari e Ivo mudaram para o município da Lagoa da Confusão. Ari foi um dos fundadores do PDT de Goiás, do ex-governador Leonel Brizola (foto), cunhado de João Goulart. Já o senhor Ivo Moura ajudou na fundação do PMDB da Lagoa da Confusão.
Os filhos de Ivo Moura, a exemplo do pai, cresceram militando na política. Mas só um deles, Mauro Gaúcho, se elegeu prefeito da Lagoa da Confusão.
Sérgio Motta se filiou no antigo PMDB, participando do grupo histórico do partido, junto com Moisés Avelino, João Cruz (foto), Eudoro Pedroza, José Freire, Brito Miranda, Derval de Paiva, Paulo Sidnei, Totó Cavalcante, Hagaús Araújo, Dolores Nunes.
Quando Paulo Sidnei deixou o PMDB para ingressar no PPS, o então deputado estadual, sabendo das qualidades de Sérgio Mota, o convidou para trabalhar na coordenação política, com o objetivo de criar os diretórios estaduais.
Em 2017, Sérgio Motta sofreu um infarto, passou por uma cirurgia e estava bem. Sabia do risco de morte, devido a um aneurisma que não podia, segundo avaliação médica, ser retirado, apenas tratado. Lamentavelmente, no final da tarde de sexta-feira ele faleceu, depois de uma parada cardíaca, proveniente de um novo infarto.
Sérgio Motta é natural de São Borja (RS) e torcedor do Internacional. Faleceu aos 71 anos e deixa a esposa Maria das Graças Moraes, quatro filhos e cinco netos. E um vazio enorme no coração dos amigos.
Sérgio com ex-presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, e Salomão Wenceslau
O diretório estadual do MDB, através de uma nota, lamentou a morte do seu ex-militante político.
MDB Tocantins
Nota de Pesar
É com pesar que recebi a notícia do falecimento do emedebista histórico, Sérgio Ney Motta Rodrigues, sulista de nascimento, mas com legado importante de trabalho em Cristalândia, morava em Palmas há anos, onde faleceu aos 71 anos nesta sexta-feira, 27.
Ele era aposentado mas ainda atuava na política tocantinense, foi um homem de boa conduta e fará muita falta.
Sérgio deixa esposa e quatro filhos. Desejo a todos da família e aos amigos, minhas sinceras condolências.
Nilton Franco
Deputado Estadual
Presidente do MDB-TO