Como já noticiamos pela ONG Portas Abertas, o extremo Norte de Camarões está sob diversos ataques do grupo islâmico Boko Haram. Um ancião explicou sobre um dos ataques: “Eles chegaram por volta das 18h gritando “Allah Akbar”, que significa Alá é grande. Pessoas fugiram. Os militantes saquearam tudo de valor”. Outro homem de uma das vilas explicou: “Algumas das pessoas perderam tudo. Eles vêm e pegam toda nossa comida e roupas. É difícil. Ninguém dorme em casa, mas na floresta, onde também não é seguro. Uma mulher recentemente foi picada por uma cobra”.
Em Tayer, há uma linha que divide a vila em áreas de cristãos e muçulmanos. Em um dos lados, a maioria das casas está abandonada e há poucas pessoas por perto. No outro lado, as casas estão animadas com pessoas sentadas do lado de fora. “É onde os muçulmanos vivem”, um pastor disse.
Os militantes sabem diferenciar as casas de cristãos e muçulmanos. A atmosfera em Tayer é tão tensa quanto em Doulo. No local, o Boko Haram matou dois cristãos em uma emboscada: Baba Boukar, de 27 anos, e Blama Angola, de 29 anos. “Eles tinham ido queimar carvão e foram emboscados a caminho de casa”, disse Kami Mari, esposa de Baba Boukar, enquanto segurava o filho de um ano, Kochiko. “A motocicleta de Boukar foi levada. Os corpos foram encontrados por forças de segurança, que vieram dar a notícia.”
Ao sul de Mayo-Sava está Mayo-Tsanaga, onde os moradores também não estão seguros. O ano de 2019 foi particularmente difícil para os cristãos que vivem ali. Em janeiro, insurgentes saquearam e queimaram duas igrejas, além de incendiar uma clínica dirigida pela igreja e diversas casas nas vilas de Gossi e Toufou. A instabilidade continuou.
O Boko Haram atacou Moskota, matando duas pessoas e ferindo outra. Eles saquearam quase 100 casas. “Tudo aconteceu de forma muito inesperada. Eles vieram ao complexo da igreja e bateram em nossa porta. Quando minha esposa abriu, percebi quem eles eram e conseguimos sair correndo para a floresta. Eles queriam dinheiro, mas não tínhamos nada em casa, então eles pegaram os pertences que quiseram e partiram. Felizmente, ninguém foi ferido”, contou um pastor.
O pastor David Mokoni, de 73 anos, não teve o mesmo destino. Ele estava dentro de casa quando os militantes vieram. Quando tentou fugir, os militantes o seguiram e mataram. Saíram sem pegar ou estragar nada. “Nós sabemos que a morte é inevitável, mas a forma como meu pai partiu ainda é difícil de suportar”, disse a filha de Mokoni. No local, o alvo específico nos cristãos era óbvio. Um regimento das forças do governo foi implantado em Mokota desde então. “Com eles, nos sentimos seguros e pensamos que podemos ficar aqui. Mas dormimos com um olho aberto. Isso só acontece desse lado, nunca aconteceram ataques na parte muçulmana, apenas aqui”, ressaltou um dos líderes da igreja em Moskota.