Da redação JM
Já na madrugada do domingo 3, a Gaviões da Fiel entrava para os trending topics (a lista de assuntos mais comentados) do Twitter por causa de seu desfile no Carnaval de São Paulo. O país criticou a escola de samba por uma representação em sua comissão de frente que mostrava Jesus sendo ‘vencido’ pelo diabo. Na segunda-feira 4, a Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados repudiou o desfile, afirmando que ele havia desrespeitado a figura de Jesus e “escarnecido” da fé cristã. Coreógrafo responsável pela coordenação da comissão de frente da Gaviões, Edgar Júnior afirma que a ideia era justamente o contrário: mostrar que, apesar dos testes diários, a fé é o caminho a ser seguido.
“O personagem do diabo está ali para testar a fé do Santo Antão”, conta. “O enredo mostra que o diabo perde a batalha para os anjos do bem diversas vezes. Depois disso, ele coordena com as forças do mal e batalha com Jesus, que realmente sofre. Mas, no final, os anjos protegem Jesus e ele aparece forte, abençoa a plateia, os anjos do bem e do mal e até o diabo, porque ele é uma pessoa de luz. Acaba a guerra e ele fala com Santo Antão como a dizer: ‘Não perca a sua fé, sempre vão testá-la, mas estou aqui contigo’. O bem vence no final.”
Edgar afirma que a ideia da representação de Jesus e do diabo era mesmo chocar o público e provocar uma reflexão sobre a fé. “O recado era que todo dia estamos crucificando Jesus aos poucos: quando o marido trai a esposa, alguém pega um troco errado e coloca no bolso, tem um político roubando dinheiro do povo. Isso não é o ensinamento de Jesus”, diz. “A nossa intenção era mostrar que a gente lida com o mal a todo momento. Para fazer as pessoas repensarem um pouco e darem mais atenção às palavras de Deus, que Jesus deixou para a gente.”
Ofensas e fake news
Edgar afirma que componentes da Gaviões da Fiel passaram a ser ofendidos e ameaçados nas redes sociais por causa da repercussão negativa. Houve, ainda, um outro desdobramento: a propagação de uma notícia falsa que diz que o ator que interpretou o diabo no desfile no Anhembi sofreu um acidente de carro e acabou morrendo. “Ninguém zomba de Deus”, diz a publicação compartilhada nas redes sociais que traz a lorota. O coreógrafo afirma que o rapaz vem sofrendo ameaças e que até apagou as redes sociais por causa das críticas, mas que está bem e que a história do acidente não passa de mentira.
Edgar conta que sabia que a imagem da batalha entre Jesus e Satanás era forte, mas não imaginava que fosse se tornar tão polêmica. “O projeto foi mostrado a todos os setores da escola, que aprovaram a ideia. O presidente (Rodrigo Gonzalez Tapia) também sabia e aprovou. Ele com certeza vetaria caso achasse que a representação poderia ofender alguém”, afirma. Tapia é cristão e, na terça-feira 5, momentos antes de começar a apuração do Carnaval de São Paulo, pediu que os presentes da sede da escola fizessem uma oração.