Da Redação JM
“Volto à ilha. Rezarei para que tudo dê certo.” Foram estas as últimas palavras escritas num diário por John Allen Chau, que, naquele mesmo dia, foi morto a flechadas por uma tribo indígena que vive completamente isolada na ilha indiana de Sentinela do Norte, no arquipélago de Andamã e Nicobar.
O americano tinha 26 anos, segundo o “Guardian”, e se dizia um missionário cristão. Embora tenha sofrido o ataque fatal no último dia 16, ele tentara antes, repetidas vezes, acessar a ilha, como indicam trechos de seu diário revelados nesta quinta-feira. Foi sempre recebido com hostilidade pelos habitantes da ilha.
Os cerca de 150 indígenas de Sentinela do Norte formam uma tribo completamente isolada que ocupa o longínquo território, estima-se, há 30 mil anos, vivendo de caça e coleta, sem contato algum com estrangeiros. O governo indiano proíbe a visitação à ilha, numa tentativa de proteger o grupo — os nativos não têm imunidade para doenças como gripe e sarampo — e preservar seu estilo de vida.
Sabendo da proibição, Chau pagou cerca de US$ 350 a pescadores para o levarem de barco a ilha, saindo à noite a fim de driblar a vigilância marítima indiana com o objetivo, segundo ele, de “levar a palavra de Jesus” à tribo.
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Na véspera da morte, no último dia 15, conseguiu se aproximar dos indígenas duas vezes, segundo seu diário, e fora outra vez recebido com hostilidade pela tribo. Voltou às pressas ao mar, carregando seu exemplar da Bíblia — atingido por uma flecha.
Nesta quinta-feira, sua família veio a público para dizer que “perdoa” os responsáveis pela morte do jovem. Em comunicado publicado no perfil do Instagram de Chau, seus pais escreveram que o missionário “amava Deus, a vida, ajudar quem precisa e não tinha nada além de amor pelos sentineleses”. “Nós perdoamos os supostos responsáveis por sua morte”, acrescentaram, pedindo ainda que as sete pessoas detidas por ajudarem o missionário a chegar à ilha sejam soltas.
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Segundo a família, Chau “se aventurou por conta própria, e seus contatos locais não precisam ser perseguidos por suas ações”.
No último dia 16, quando foi morto, ele foi levado até perto de Sentinela do Norte por pescadores que, cientes do impedimento, recusaram-se a chegar à praia e o deixaram perto dela, no mar, de onde Chau remou num caiaque até a costa.
De longe, os pescadores assistiram à cena em que ele foi atingido por flechas dos indígenas que, em seguida, passaram-lhe uma corda no pescoço e arrastaram seu corpo para dentro da ilha.
Problema para investigar
O incidente é tratado pela polícia local como homicídio. Mas a tribo não pode ser indiciada, já que não é imputável segundo as leis indianas. Os pescadores que levaram Chau foram detidos. As autoridades indianas enfrentam outro problema: como recuperar o corpo dele sem causar danos ao isolamento voluntário da tribo, já que uma aproximação poderia ter consequências antropológicas e sanitárias.
Com informações O Globo