Em seu mais novo artigo intitulado “O perigo da cristologia sócio-crítica”, o pastor e articulista Claudionor de Andrade bate com muita força na herética e perigosa “teologia da libertação”, corrente teológica que em resumo é uma tentativa de interpretar a Escritura através do sofrimento dos pobres. É em grande parte uma doutrina humanista.
Segundo Gustavo Corção (1896-1978), o Concílio Vaticano II, realizado entre 1961 e 1965, escancarou as portas da Igreja Católica a uma bem ensaiada cristologia de esquerda. Pelo menos, foi o que eu entendi ao ler as páginas iniciais do Século do Nada, desse inconformado e corajoso pensador católico brasileiro.
Infelizmente, Corção não estava errado; interpretara ele precisa e claramente os objetivos daquele concílio. Então, atentemos às alocuções da Santa Sé.
O Papa Paulo VI, ao concluir os trabalhos conciliares, declarou solenemente: “A religião do Deus que se fez homem se encontrou com a religião, porque ela é tal, do homem que se faz Deus”. Mais adiante, acrescentou o pontífice romano: “Sabei reconhecer nosso novo humanismo: nós também, nós, mais quem quer que seja, nós temos o culto do homem”.
Sim, querido leitor, o que esperar de um líder, tido como cristão, que, formal e publicamente, troca a cristologia do Novo Testamento, por uma cristificação humanista, materialista, comunista e despida de Deus? Não se pode adotar a ambas; são irreconciliáveis. Ou se fica com a primeira. Ou com a segunda. Professar a primeira e a segunda é algo ilógico, pois antagônicas e excludentes.
Como um abismo chama outro, o Concílio Vaticano II acabou por provocar a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. Realizada em Medellin, na Colômbia, de 24 de agosto a 6 de setembro de 1968, o conclave trabalhou a seguinte temática: “A Igreja na presente transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II”. Foi nessa ocasião que a Teologia da Libertação começou a grassar por toda a América Latina, principalmente no Brasil. A esquerdização da igreja romana já era uma indesejável, mas indisfarçada realidade. Nesse encontro, ganharam destaque os documentos sobre a justiça, a paz e a pobreza da igreja. Tais palavras, a propósito, são habilmente trabalhadas pelo maxismo cultural, visando a subversão da ordem social.
Até a ascensão de Karol Józef Wojtyła ao papado, Karl Marx era mais citado que Agostinho e Tomás de Aquino, em boa parte dos seminários e paróquias romanas de nosso pobre, sofrido e crédulo continente. O papa Bento XVI, firmado em sua cristologia bíblica e conservadora, também não abriu espaço à Teologia da Libertação. Mas o seu sucessor, oriundo de um contexto esquerdista e caótico, ensaiou conceder algumas guaridas à tal “doutrina”.
A Teologia da Libertação, aliás, não é tão recente como se imagina, nem tão exclusivamente católica quanto se supõe. Se recorrermos a história da América Latina, encontraremos a sua gênese no frade dominicano espanhol Bartolomé de las Casas (1474-1566). Missionário na ilha hoje ocupada pelo Haiti e pela República Dominicana, las Casas logo se incomodou com a situação do nativo caribenho frente à opressão ibérica. E, para denunciar o colonizador europeu, escreve ele O Paraíso Destruído.
O erro de Bartolomé não foi contrapor-se às injustiças. Todo cristão está intimado a clamar aos Céus e à Terra contra a tirania. Em orações, clamores e lágrimas, a Deus; e, em petições devidamente protocoladas, aos reis e aos governadores. A estes, apresentemos as reivindicações dos profetas hebreus e dos apóstolos de Jesus Cristo. E, para tanto, não precisamos torcer as Escrituras, nem lançar mão de uma hermenêutica libertária e violenta. O Antigo e o Novo Testamento trazem provisões necessárias, a fim de se implantar a justiça, o direito, a concórdia e a solidariedade entre os homens. Ao que parece, o religioso dominicano não levou isso em conta.
No decorrer da vida atribulada das nações latino-americanas, outros ideólogos católico-romanos foram surgindo aqui e ali. Haja vista Gustavo Gutiérres. Usando habilmente o método sócio-crítico de interpretação das Escrituras, o teólogo peruano, nascido em 1928, publicou, em 1971, a sua Teologia da Libertação. Com as lentes do marxismo, passou ele a ensinar que a missão da igreja é libertar o oprimido do sistema capitalista. E, para fundamentar sua tese, foi buscar os exemplos mais improváveis e inapropriados nas Escrituras, como se Moisés e o próprio Cristo fossem tão comunistas quanto Lênin e Stalin. No ano seguinte, o teólogo brasileiro Leonardo Boff lançaria o seu Jesus Libertador.
Na construção da teologia comunista, não deixaram de contribuir também alguns teólogos protestantes como o alenão Jürgen Moltmann (1026-), com a sua Teologia da Esperança. Infelizmente, algumas igrejas evangélicas históricas, no Brasil, acabaram por aderir à cristologia marxista. Algumas, sem o saber; outras, premeditadamente. Há que se mencionar, ainda, o influente teólogo batista norte-americano Harvey Cox, autor de A Cidade Secular.
Se alguma cristologia é possível, a partir da Teologia da Libertação, não é certamente a do Novo Testamento. Desse arremedo todo, saiu um cristo caricato, blasfemo e tão esquerdista quanto os marxistas que infelicitaram a Rússia, a Coreia do Norte, Cuba e, mais recentemente, a Venezuela. Sim, querido e inconformado leitor, o cristo que daí ascende nada tem a ver com o Jesus do Calvário. Em nada difere de Fidel, Che e de outras figuras bem conhecidas dos brasileiros.
Não precisamos da Teologia da Libertação, para corrigir as desigualdades sociais. Homens como Martinho Lutero, João Wesley e Robert Raikes, ao proclamarem a Palavra de Deus tal como no-la confiaram os profetas hebreus e os apóstolos de Jesus, fizeram mais pela humanidade do que Marx e Lênin.
O irmão Raikes, por exemplo, levou o Reino Unido a experimentar a maior revolução espiritual, moral e social do século 18. Ao fundar a Escola Dominical, no dia três de novembro de 1783, demonstrou que as crianças de rua podiam ser plenamente recuperadas pelo Evangelho de Cristo, sem que nenhum sangue precisasse ser derramado. A partir daí, o Reino Unido começou a experimentar um progresso extraordinário em todas as áreas. Aliás, foi com a Escola Dominical que teve início o ensino público obrigatório nas ilhas britânicas.
Se a França contasse com uma escola como a do irmão Raikes, não teria arcado com as consequências desastrosas de sua revolução. Enquanto as crianças inglesas frequentavam a Escola Dominical, as francesas eram mortas por um movimento insuflado por homens que nenhum valor emprestavam à Bíblia Sagrada.
Certa vez, Jesus viu-se constrangido a evadir-se, para que o povo não o aclamasse rei (Jo 6.15). Isso aconteceu após o Mestre Divino ter alimentado quase cinco mil pessoas com os cinco pães e os dois peixinhos de um rapaz. Se o Filho de Deus fosse um desses demagogos, que, a cada sinal de crise, aparecem para infelicitar ainda mais a América Latina, teria ele confiscado os pães e os peixinhos daquele garoto, para estatizá-los. Em seguida, racionaria cada naco de pão e farelo de peixe.
O meu Cristo não é comunista. Todavia, Ele morreu por todos igualmente, a fim de que, junto a Ele, usufruíssemos de uma doce e indelével comunhão.
A Teologia da Libertação nada tem a ver com o Senhor Jesus. A palavra de Cristo, sendo a mais elevada verdade, traz a libertação completa da alma (Jo 8.32). Em sua obra redentora, o único sangue que teve de ser derramado foi o dele, não o de seus discípulos. Que contraste com os tiranos que, embalados pelo marxismo, dizimam suas gentes em nome de uma ideologia perversa, demoníaca e já satânica. Definitivamente, a cristologia da Teologia da Libertação jamais libertará o ser humano de sua real miséria: o pecado. Enquanto isto, nós proclamamos que Jesus Cristo salva, batiza com o Espírito Santo, cura os enfermos, opera sinais e maravilhas e, em breve, levar-nos-á para o Céu.
Eu amo o Cristo da Bíblia!