Por Silvio Vinicius Martins
Reconheço que é um assunto muito polêmico e que contraria os pensamentos de muitos mediante os pontos de vista da pessoa que finca eternamente seus pés em um lugar chegando a determinar consigo mesmo que não sai de jeito nenhum, a não ser carregado por quatro pessoas. Contrariam muitas das vezes a vontade de Deus e ao seu líder designado como presidente. Infelizmente, tornam-se um mau exemplo para seus liderados, um modelo de insubmissão e um verdadeiro discipulador de desobediência aos que correm o risco de serem influenciados por ele. Reconheço sem demagogia que não tenho cabedal suficiente para abordar este assunto delicado. Mas digo que nem o Apóstolo dos gentios, Paulo: “… também eu cuido que tenho o Espírito de Deus” (1 Co 7.40), bem como, “… penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos” (2 Co 11.5) reconhecendo minha pequenez. Sabemos que Paulo foi apóstolo igual aos outros e reconheceu que eles foram antes dele: “… os que já antes de mim eram apóstolos…” (Gl 1.17) reconhecimento justo de que também tenho diante de Obreiros veteranos que labutam na Obra do Senhor. Guardo em meu coração a obrigação de sempre honrar e respeitar os mais veteranos na Obra de Deus, todavia, preciso notificar este mal reinante na sociedade ministerial. Aqui estou apenas dando o meu parecer singelo e sem ter intenção de afrontar e machucar ninguém.
Entendo desde a minha tenra idade espiritual onde fui aprendendo na Casa de Deus através dos homens compromissados com a Palavra de Deus de que o individuo chamado por Deus para a obra do Santo Ministério deve claramente entender e aceitar a vontade de Deus tanto no que diz respeito a ser levado para um campo eclesiástico, bem como, a sua saída daquele lugar mediante a determinação do seu pastor-presidente. E a geração de Obreiros antiga compreende muito bem isto que abordo. Agora, a nova geração de Obreiros deve manter em seu coração esta bendita compreensão, pois disse o Pregador em Eclesiastes 1.4: “Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece”. Urge a necessidade de se passar a nova geração de Obreiros (a qual faço parte) este preceito que ora analiso e que está sendo esquecido na mente de muitos.
Penso humildemente que nunca se precisou orientar tanto aos Obreiros como nos dias hodiernos acerca deste assunto. Sou Obreiro novo, mas fico preocupado com a formação que está se dando aos que vão entrando na milícia ministerial. Uns estão sendo posto por questões variadas sem ter a aprovação de Deus! É preciso preocupar-se com a formação teológica? Sim. Mas não podemos deixar de se preocupar com a formação oriunda dos conselhos, das advertências, da praticidade nos trabalhos, dos testes que redundarão em experiência. Há dois textos sagrados que fundamentam a questão ora apontada, aos quais deixo registrados, a saber: Filipenses 2.22: “Mas bem sabeis qual a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai” e 2 Coríntios 8.22: “Com eles enviamos também outro nosso irmão, o qual muitas vezes, e em muitas coisas, já experimentamos ser diligente, e agora muito mais diligente ainda pela muita confiança que em vós tem” (grifo meu).
O dono da Obra, Deus, comissiona homens para a vida ministerial com o intuito de que sejam verdadeiramente bênçãos na vida da igreja por onde passa com a finalidade de ofertar a sua preciosa colaboração em prol do reino de Deus visando sempre à glorificação do nome do Senhor através de sua vida pessoal e ministerial. O Obreiro que assim age nunca perde este senso de convicção de que seu ministério não deve ser censurado e que precisa lutar para que não dê escândalo em coisa alguma conforme a revelação de Deus em Segundo Coríntios 6.3 que diz: “Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado”. Quando passamos a contemplar as preciosas colaborações que Pedro, João, Tiago, Paulo, Lucas, Mateus, Marcos deram com os seus escritos, ficamos maravilhados. Mas nestes escritos constam as histórias de outros que eram servos (as) de Deus e que nos fornecem ensinos que servem como modeladores para a nossa vida ministerial.
É bem verdade que quando o Obreiro sabe conscientemente de que seu tempo chegou e isto não importa o porte da igreja que está liderando, deve entregá-la para que assim não venha ter um ministério censurado. Aprendi com os Obreiros veteranos (quando nem Obreiro eu era) que Deus faz o Obreiro sentir quando o seu tempo chega e quando ficamos resistindo sem querer sair do lugar tudo começa a dar errado, ocorrendo então situações adversas que fazem o trabalho empacar, dentre outras coisas. Isto me faz lembrar o que ocorreu com Balaão onde a jumenta teve mais percepção do que o “profeta” (Nm 22.23-34).
Vejamos, pois numa analise aplicativa rápida as ações da jumenta ao ver a manifestação divina: a) “desviou-se a jumenta do caminho”, b) “encostou-se contra a parede e apertou contra a parede o pé de Balaão”, c) “deitou-se debaixo de Balaão”. Deus usa circunstâncias variadas para mostrar ao Obreiro que seu tempo já chegou, mas ele não está nem aí. Isto acontece por variadas razões, dentre as quais cito duas: a) amor ao local de trabalho pelo que ele lhe oferece e b) renda do campo. Agora, observemos as ações repetitivas de Balaão diante das situações oriundas das ações da jumenta: a) “Balaão espancou a jumenta”; b) “tornou a espancá-la”; c) “e a ira de Balaão acendeu-se, e espancou a jumenta com o bordão”. Triste é o Obreiro que tem ciência que seu tempo chegou e fica espancando o povo de Deus. O vocábulo espancar significa “Dar pancadas em, afastar, afugentar”. Quantos cristãos que estão afugentados por reconhecerem o tempo já chegado do seu líder e que precisa dar sua contribuição em outro lugar! Quantos afugentados que infelizmente seguram até o que é Deus (dízimos e ofertas) como forma de fazer pressão.
Contemplemos aqui as ações do Anjo do Senhor, as quais foram: a) “estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão”; b) “pôs-se numa vereda entre as vinhas”; c) “pôs-se num lugar estreito”. As Escrituras Sagradas nos dizem que: “É uma coisa terrível cair nas mãos do Deus vivo”, Hb 10.31. Davi certa feita disse: “… Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu”, 2 Sm 24.14. E o profeta Samuel disse: “… Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros.”, 1 Sm 15.22. Então precisamos escolher se queremos sair do campo de trabalho sentindo a terribilidade de cair nas mãos de Deus mesclada de misericórdia ou sair praticando a obediência.
Agora, entenda que Deus se pôs no caminho de Balaão com a finalidade de lhe abrir “os olhos”, de sair “para ser adversário”, de tirar-lhe a vida (“eu agora te haveria matado”) e de ser opositor dele (“para te opores a mim”). Meus prezados companheiros que não venhamos querer vivenciar isto! Não queiramos ter o nosso Deus como nosso adversário! O Dono da igreja é Deus! Que o amado Obreiro diga a Deus antes de a situação agravar: “Eis-me aqui, envia-me a mim”, Is 6.8.
O que adianta começar humilde e submisso ao assumir igrejas de portes pequenos e quando Deus através do pastor presidente for o elevando a igrejas de portes maiores deixarem de lado a humildade e a submissão que antes tanto passava em suas ministrações. Isto redunda em falta de vigilância, de sensatez por pensar que agora não tem pra quê prestar contas ao seu líder terreno. Não sei o que se passa na mente de tais Obreiros.
Mas… Diante de algumas situações desastrosas sabemos da existência de homens de Deus conscientes do que está escrito em Eclesiastes 3.1-8: “TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.
Talvez você ainda fique a perguntar: Não entendi! Pois bem! Então vejamos outra recomendação bíblica em Salmos 121.8: “O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre”. A questão aqui é: TEMPO! O Obreiro deve entender de que tem o tempo para chegar e o tempo para sair da igreja para onde foi enviado à trabalhar em conjunto com a igreja.
Será que tais Obreiros não sentem mais quando o povo começa a rejeitá-lo? Será que a sensibilidade espiritual de compreender que seu tempo findou naquele lugar? Será que tanto fez como tanto faz se a igreja vai bem com seu tempo de trabalho terminado naquele lugar e o que importa na verdade é o seu “reino”? Obreiros que procedem assim estão concedendo lugar para seu ministério ser reprovado (1 Coríntios 9.27). Aqui aplico a expressão de Lucas no capítulo 1 e versículo 23: “E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa” (grifo meu). É imprescindível saber que para servir a Deus e a Sua igreja, de maneira sincera, dedicada e com um coração puro livre de qualquer soberba, orgulho ou outro sentimento mesquinho que destrói qualquer Obreiro precisa claramente entender que tem um tempo para permanecer no campo eclesiástico onde trabalha. Ora, quando terminar seus dias no campo seja obediente à voz de Deus e se digne a ir a outro campo de trabalho com a benção de Deus e do seu líder maior.
No início da minha chamada ministerial comecei a adquirir material voltado a área da liderança para poder adquirir conhecimento mesmo que teórico, pois as Santas Escrituras em Provérbios dizem que bem-aventurado é o homem que adquire conhecimento (3.13). Com isto sabemos que existe este começo de preparação na vida do chamado, aonde o mesmo vai se desenvolvendo até o momento designado por Deus em que começará a liderar uma comunidade de crentes. E deverá manter uma constante vigilância para não perder os princípios sadios que aprendeu.
Então, a duração é de curto, de médio ou de longo tempo de um pastor a frente de uma congregação? Aqui notifico duas razões que podem indicar o tempo em que o Obreiro ficará a frente de uma igreja liderando, a saber: o tempo de Deus e o nosso tempo. Acerca do nosso tempo externo alguns itens que podem contribuir para a saída do Obreiro, como: a) O não encaixamento, ou seja, o casamento do mesmo com a igreja e vice-versa; b) O descontentamento de estar numa igreja ou local geográfico que não lhe seja agradável, ficando assim, desmerecendo a igreja e/ou local geográfico provocando entristecimento nas pessoas; c) a saúde sua ou dos membros da família; d) situações problemáticas (confusões, rebeliões, brigas, agressões verbais etc) contra o povo ou o ministério; e) dívidas financeiras que colocam a igreja em descrédito; f) questão que desabone a moral do Obreiro etc.
Ainda dentro da questão em analise sobre o nosso tempo basta salientar que o vocábulo tempo Chronos significa “tempo cronológico” ou “tempo sequencial”, o “tempo que se mede”. Sim, se mede em anos, dias, horas e suas divisões. E aqui continuamos a abordar se um pastor tem um tempo determinado para ficar a frente de uma igreja. Uns acham que não pode demorar muito, outros já dizem que tem que ter um tempo razoável para poder desenvolver o seu trabalho e ter o que mostrar, ou seja, serviços prestados. Na verdade, é preciso ter um senso de razão afinado para ter o máximo de cuidado no tocante às questões citadas. Irei abordar aqui na esfera do pensamento ou lógica humana, para depois partimos para a esfera espiritual, ou seja, o tempo de Deus. Vemos a necessidade de ver o porte do trabalho onde está o Obreiro, se lhe oferta condições favoráveis de passar dois ou até três anos naquele lugar. É de ciência de todos nós que há lugares onde o Obreiro não pode passar tanto tempo assim pelo desgaste que lhe virá e também estenderá a sua família.
No quesito de prestação de serviços precisa-se também ver qual a área ou ferramenta que Deus tem dado ao Obreiro. Neste ponto quero enfatizar que toda regra tem exceção, mas que é preciso notificar a questão ora pontuada. Também tem se avolumado em nosso meio diversas conceituações de que o trabalho só está sendo próspero: a) se a renda estiver aumentando. Aqui é imprescindível dizer que ensinar a Palavra de Deus na sua completude é mais do que fundamental e necessária. Só que devemos salientar de que conversão financeira nem todos têm; b) se está havendo batismo nas águas. Aí vemos alguns Obreiros batizando pessoas de todo jeito só para mostrar que Deus está abençoando; c) se está tendo construção de templos. Aqui me lembro da expressão do pastor Amaro Cristovam que disse: “construir é fácil, quero ver ter pessoas para congregar”. Verdade incontestável!; d) se ocorre salvação de vidas. E aí penso incontestavelmente: Quem salva é Jesus e não o Obreiro. Lembro-me de uma declaração dum missionário que esteve por certo tempo no campo missionário e nenhuma vida veio para Jesus. O mesmo ficou em estado de choque, mas que anos mais tarde começou a aparecer os resultados de sua semeadura. Com isto fico a pensar: Se acontecer algo deste porte com alguém enviado para uma igreja e não acontecer imediatamente salvação de vidas colocar-se-á em cheque a chamada do tal?
Esquecemos muitas das vezes de frisar que um trabalho está sendo próspero quando: a) está existindo a devida paz no meio do povo (At 9.31); b) o povo está sendo edificado na Palavra de Deus; quando ocorre perseverança na doutrina (At 2.42); c) as pessoas voltam a congregar com seriedade (At 2.46), mesmo sabendo que sempre haverá aqueles que não gostam do líder por alguma questão pessoal; d) se tem convocação de pessoas para trabalharem na Seara do Mestre (Mt 9.37,38; At 13.1-4), e) se propõe a falar unicamente de Cristo (At 8.5) quando muitos ficam a expor meio mundo de besteirol teológico e deixam a Cristo em último lugar (Gl 1.8); f) há evidência de que o povo anda no temor do Senhor (At 9.31) rejeitando a amizade do mundo (Tg 4.4) dentre outras coisas salutares no meio cristão.
Acerca do tempo de Deus conhecido como Kairós (grego καιρός) o qual significa “o momento oportuno”, “certo” ou “supremo” e na teologia descreve “o tempo de Deus”, o qual não pode ser medido, basta lembrarmo-nos da expressão bíblica em Eclesiastes “… e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Pronto! Este é exatamente o tempo voltado à ação de Deus. Houve o tempo certo para Deus levantar o libertador do povo israelita com a finalidade de tirá-los do Egito, houve o tempo oportuno de Sara engravidar (Gn 17.16), houve o tempo oportuno de José governar o Egito, houve o tempo oportuno de Rebeca engravidar (Gn 25.21,26), houve o tempo certo de Jesus vir ao mundo (Gl 4.4), dentre tantas outras coisas “não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”, Gálatas 6.9.
Meus queridos companheiros, colaboramos com Deus no que diz respeito â nossa preparação para o ministério no desejo ardente de quando chegasse o tempo (kairós) servi-lo juntamente a igreja e ministério da melhor maneira possível. Devemos atentar que o tempo oportuno chegou e estamos no local designado cooperando com a igreja visando o seu bem-estar e a glorificação do nome do Senhor. Se você vai demorar ou não no campo que ora estais a trabalhar só Deus sabe. Todavia, digo que o Dono da Obra se responsabilizará de falar ao teu coração que a hora chegou da tua saída, para que assim, como chegaste abençoado saias da mesma forma abençoado, como diz Salmos 121.8: “O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre”.
Entendo claramente que a questão do tempo para ficar a frente de uma igreja deve ser avaliada com muita sensatez cristã. É verdade que no início da Obra Paulo passou por lugares que demorou e outros não, como vemos a seguir: Paulo e Barnabé em Icônio passaram bastante tempo ali, falando corajosamente do Senhor (At 14.3: “Detiveram-se, pois, muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios”); Em Filipos ficaram alguns dias (At 16.12: “E dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia; e estivemos alguns dias nesta cidade”). Em Tessalônica ficou três sábados, ou seja, 15 dias (At 17.2: “E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras”); Em Atenas dias incógnitos (At 17.17: “De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam”). Em Eféso ficou três meses (At 19.8: “E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus”).
Com isto quero dizer que é preciso permanecer atento aos sinais de Deus na tua vida. Deus sabe o que deves fazer no campo de trabalho e o tempo necessário de ficares. No tempo determinado por Deus não recue e esteja pronto para saíres com louvor e com alegria. Não queiras sair enxotado! Deus nos abençoe e nos guarde!
Silvio Vinicius Martins
Pastor da Assembleia de Deus em Piaçabuçu-AL, presidente da comissão de apologética (COMADAL), articulista, Graduado em Teologia.