Da Redação JM Notícia
A banda Katsbarnea, uma das pioneiras do cenário gospel, lançou nesta semana uma canção que tem tudo para gerar polêmica no meio religioso. Com o título de “O Mundo Agora é Gay (MAG)”, a banda traz uma mensagem cada vez menos pregada diante de uma sociedade polarizada politicamente.
Escrita por Paulinho Makuko, líder da banda, a canção fala que “o mundo agora é gay, inteligente e vulgar” e que a “juventude está perdida sem saber onde ir”. Mas não há críticas ao comportamento homossexual, pelo contrário, a mensagem da música é “Jesus Cristo te ama do jeito que você é”.
“Não é uma crítica e nem estou levantando a bandeira dos gays. Não é uma coisa, nem outra. Mas o que eu quero dizer, é que assim como você defende uma pessoa que usa drogas, o tratamento é diferente para com o gay. Parece que o gay é muito mais discriminado”, disse o autor.
Lançada em 1º de maio como lyric vídeo no Youtube e nas plataformas digitais, a canção já tem gerado críticas à banda, pessoas que pensam que a letra está levantando a bandeira gay. Conversamos com o autor da música em uma entrevista exclusiva onde ele explica a criação da música e a proposta de aproximar um grupo cada vez mais rejeitado pela igreja.
Com 30 anos de ministério, o Katsbarnea tem um histórico de canções com letras que se destacam pelo viés evangelístico, atingindo públicos marginalizados e que não encontram apoio nas canções gospel tradicionais. “É que as pessoas estão bitoladas em um tipo de música gospel que fala apenas do bem-estar dela, para ela ficar bem, para ela ser abençoada e ninguém pensa no próximo”, disse Makuko.
Confira a entrevista completa:
JM Notícia: Como surgiu essa composição que trata de um tema tão sensível nos dias atuais?
Paulinho Makuko: As músicas, canções, letras e arranjos vão surgindo naturalmente, eu não tenho uma regra. As vezes é meu cotidiano, minha vida, então faço normalmente. Agora este tema surgiu do nada, eu estava fazendo umas músicas e de repente eu resolvi fazer uma música sobre este tema e fui fazendo a música, colocando os trechos e fazendo a melodia que é bem simples e fácil de cantar.
JM: A música, ao contrário do que possam imaginar, não é uma crítica à homossexualidade, mas uma mensagem inclusiva. A intensão é reaproximar a comunidade LGBT do evangelho?
Makuko: Não é uma crítica e nem estou levantando a bandeira dos gays. Não é uma coisa, nem outra. Mas o que eu quero dizer, é que assim como você defende uma pessoa que usa drogas, o tratamento é diferente para com o gay. Parece que o gay é muito mais discriminado. E no final da música eu já falo tudo e tem muito crente burro que não consegue entender isso [o amor de Jesus. É que as pessoas estão bitoladas em um tipo de música gospel que fala apenas do bem-estar dela, para ela ficar bem, para ela ser abençoada e ninguém pensa no próximo.
Eu estou narrando uma história desde o começo da criação, tem um texto da música que fala que Deus criou a mulher para o homem não ser só, mas as pessoas não percebem isso porque são burros. O que eu quero é que as pessoas se aproximem de Deus, é um trabalho de evangelismo da minha forma de evangelizar, porque Deus me escolheu dessa forma, louco, pirado e Deus chama a pessoa como ela está.
Quando você chega até Deus, você chega do jeito que é. Você não tem que se concertar primeiro para Deus chegar até Deus. E eu acho que são os piores que chegam primeiro, porque na necessidade chega um ponto que você só precisa de Deus. Eu penso que a gente tem que mostrar para essas pessoas o real valor da vida e respeitá-las. E no meio evangélico eles não respeitam os gays, os viciados, os músicos, eles tratam mal. Então eles também precisam ser tratados. Espero que essa música faça bem para os evangélicos também, porque está cheio de gays enrustidos, trancados. É bom que assim eles se libertam!
JM: Nos últimos anos, por questões políticas, criou-se uma ideia de que a igreja odeia os gays. Como trazer uma mensagem oposta a isso dentro desse contexto de “rivalidade”?
Makuko: Essa visão é totalmente errada e já vem do tempo de Jesus, quando os fariseus criavam as doutrinas deles. Procure no novo testamento onde Jesus fazia política com as autoridades da época. Jesus não veio para isso. Jesus não ficava impondo as coisas para as pessoas, ele era o Verbo em carne.
A igreja não recebe os gays por causas políticas, então não poderia receber os ladrões, os viciados, as prostitutas, os adúlteros, os mentirosos, então não vai receber ninguém porque todo mundo tem defeito. Esses políticos, como você está colocando, ele também está criando uma situação de rejeição contra outras pessoas. Imagine, Jesus ia desprezar um gay, ladrão ou assassino que é uma coisa terrível? Não. A questão é restaurar e não discriminar. Como você pode chegar nessas pessoas? Por que Jesus chegava e as pessoas se transformavam? E por que hoje os gays vão para a igreja hoje e não se transforma? Essa questão não sei responder, mas pelo menos um pouco de amor e atenção a gente tem que dar, não só para os gays. Então essa coisa política tem que acabar. Acordem pra vida!
JM: O senhor tem medo das críticas que virão do lado dos evangélicos?
Makuko: Eu não tenho medo das críticas. Eu nunca tive e não vou ter. Eles vão me criticar mesmo. Eu faço uma música falando do amor de Jesus, eu sou cristão, e eles me criticam. Criticam a minha música, a minha forma, o meu jeito, o meu show. Eu quero mais que me critiquem, quem sabe lá no fundo eles possam acordar e se arrependerem. E fariseu fica de plantão de madrugada e eu não ligo para isso. Se me criticarem, vão em frente eu não me preocupo com isso não, eu me preocupo em levar a mensagem de Deus, não com as críticas e nem com as rádios gospel que não tocam a minha música. Aqui em São Paulo só a Gospel FM toca a minha música e a Rádio 88 FM de Volta Redonda e eu não estou nem aí.
JM: A música pode causar estranheza aos mais novos, mas o Katsbarnea já tinha canções nesse sentido de inclusão como vemos “Meio Fio”. A música “O Mundo Agora é Gay” é um resgate à essa mensagem de evangelismo que a banda sempre trouxe?
Makuko: Se causar alguma estranheza vai ser ótimo, porque tudo que causa um impacto é porque, de alguma forma, foi sentido. Mas é estranho falar da juventude, porque isso é meio careta. A juventude tem que ir atrás do novo, correr atrás do vento. Por isso eu cito a juventude perdida, parece que ninguém sabe onde quer ir. Quando eu era jovem eu fazia as coisas, as músicas, as revoluções, os ideais e não tinha essa de que ‘será que eu vou gostar’, então eu falo disso também.
JM: A canção faz parte de algum CD novo da banda? Como estão os trabalhos do Katsbarnea, a banda pioneira do rock gospel nacional?
Makuko: Essa música é um single, ela ia entrar em um DVD que a gente gravou no ano passado em São Paulo, mas não deu tempo e ela acabou não entrando. Ela vai sair apenas como lyric vídeo e está disponível nas plataformas digitais como iTunes, Deezer, Spotify, Amazon e você pode comprar lá. O que temos de novo é DVD “A Carne e o Sangue” e para 2018 estamos preparando um CD. Preparem seus ouvidos e preparem ‘la plata’ porque sem ‘la plata’ não podemos viver (risos).
JM: Qual a formação atual da banda?
Makuko: A formação atual é Paulinho Makuko, Marrash, Jeff Fing e Dubujú
Assista ao lyric vídeo da música “O Mundo Agora é Gay”