O movimento palestino Hamas defendeu nesta quinta-feira (07/12) a convocação de uma nova intifada (levante popular) contra Israel, após o governo dos Estados Unidos reconhecer oficialmente Jerusalém como a capital israelense. O Conselho de Segurança fará reunião de emergência.
Nesta quarta-feira (06), o presidente Donald Trump anunciou a decisão, ignorando alertas de diversos líderes internacionais sobre os riscos que ela pode acarretar aos esforços de paz no Oriente Médio. Nesta sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU vai se reunir de emergência para debater a questão.
“Devemos convocar e trabalhar para lançar a intifada na face de nosso inimigo sionista”, afirmou o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, durante discurso em Gaza. “A política sionista apoiada pelos EUA não pode ser confrontada a menos que iniciemos uma nova intifada.”
Haniyeh, eleito líder do movimento em maio, pediu que palestinos, árabes e muçulmanos realizem protestos nesta sexta-feira. “Façamos do 8 de dezembro o primeiro dia da nova intifada contra os ocupantes”, afirmou.
O Hamas, que já lutou três guerras contra Israel desde 2007, é considerado um grupo terrorista por Tel Aviv e Washington. O movimento se recusa reconhecer o direito de existência de Israel e esteve por trás da última intifada, iniciada no ano 2000.
“Demos instruções a todos os membros do Hamas e todas as nossas ramificações para que estejam prontos para confrontar esse perigo estratégico que ameaça Jerusalém e a Palestina”, disse Haniyeh.
“A Jerusalém unificada é árabe e muçulmana, e é a capital do Estado Palestino e de toda a Palestina”, afirmou, referindo-se ao território que inclui Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia ocupada.
Haniyeh pediu ao líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que abandone as negociações de paz e boicote o governo de Trump, “enterrando de vez o chamado acordo de paz”.
A declaração do líder do Hamas confirma temores de que a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, que implica no reconhecimento do status da Cidade Santa como a capital do país, pudesse insuflar as animosidades na região.
Israel considera Jerusalém sua capital “eterna e indivisível”, enquanto os palestinos defendem que a porção leste de Jerusalém deve ser a capital de seu almejado Estado.
As Nações Unidas estabelecem que o status de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelenses e palestinos, razão pela qual os países com representação diplomática em Israel têm suas embaixadas em Tel Aviv e imediações.
“Jogar óleo na fogueira”
Vários especialistas internacionais haviam chamado a atenção para o agravamento das tensões na região. Em entrevista à DW, o ex-embaixador alemão em Israel, Rudolf Dressler, afirmou que os conflitos em torno dessa questão podem se acirrar de tal modo que “a ameaça de uma terceira intifada não pode ser descartada”.
“Se pensarmos que a segunda intifada foi iniciada por uma visita do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon ao Monte do Templo em 2000, fica claro que existem algumas semelhanças. A ideologia e a transmissão de sinais, o fato de que alguém esteja escolhendo um dos lados, são extremamente perigosos também em termos de conflito religioso”, alertou.
Antes do anúncio de Trump na Casa Branca, o ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, já havia alertado sobre o risco de “se jogar óleo na fogueira”. A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que a decisão americana é “contraproducente”.
O governo do Irã, por sua vez, advertiu que a medida poderia levar a “mais uma intifada, além de mais extremismo e violência”.
Durante o anúncio na Casa Branca, Trump disse que a medida apenas reconhece o “óbvio”: que a cidade disputada é sede do governo israelense. “Não é nada mais que o reconhecimento da realidade.”
Apesar dos temores quanto ao agravamento das tensões, Trump disse que os EUA seguem profundamente comprometidos em promover um acordo de paz que seja satisfatório tanto para israelenses como para palestinos. “Farei tudo em meu poder para ajudar a firmar tal acordo”, disse.
As Forças Israelenses de Defesa (IDF) anunciaram nesta quinta-feira o envio de tropas adicionais para reforçar a segurança na Cisjordânia ocupada. Vários batalhões do Exército foram colocados de prontidão em caso de “possíveis desenvolvimentos”, afirmou a IDF. Com informações O Povo