Da Redação JM Notícia
O pastor Isac Santos postou em seu Facebook uma foto ao ado de índios xavantes que vivem em Água Boa, no Mato Grosso, comemorando a cerimônia de batismo de 38 integrantes da aldeia, inclusive o cacique do grupo.
O que para muitos é motivo de festa, para vários internautas foi motivo de raiva, fazendo duras críticas e até ameaças ao pastor. “Eu peço que Deus ilumine sua cabeça e mostre como é irracional e até pecado o desrespeito à cultura indígena. Jesus não é isso”, escreveu uma mulher.
Em entrevista à BBC Brasil, o antropólogo Roque Lara, declarou que a evangelização de índios “é um absurdo”. “A Constituição brasileira garante aos indígenas o direito de continuar com suas crenças e religiões. Como antropólogo, há muito tempo tenho me manifestado contra missões. É um absurdo que uma pessoa que venha de fora, que não fala a língua do grupo, queira mudar a cabeça deles e as crenças de centenas de anos”.
Pastor se defende dos ataques
O pastor Isac Santos pertence à Igreja Tempo de Semear e contou que conhece o cacique da aldeia há mais de um ano e que mantém boa relação com os xavantes.
Eles eram convertidos ao cristianismo. Ao contrário do que os ignorantes pensam, na aldeia deles possui energia e televisão. Além disso, os indígenas daquela região têm conta no banco, título de eleitor, Bolsa Família, falam português e fazem faculdade. Eles não ficam dançando ao redor do fogo o dia todo”, disse.
O religioso aproveitou para criticar o que ela chama de “ativistas de teclado”, ou seja, as pessoas que ficam em suas casas fazendo ativismo pelas redes sociais.
“Fazer dos indígenas uma bandeira de ativismo é muito bizarro. Os tratam como bichos, como se fossem incapazes. Os indígenas dizem que podem tomar suas próprias decisões. Eles escolheram a nossa fé. Parece que é crime o fato de eles terem escolhido o cristianismo.”
O pastor declarou também que por conta da imagem do batismo ele tem recebido inúmeras ameaças. “No meu Facebook, comenta quem quer. Na minha caixa de mensagem há todo tipo de ameaça. Mas não é disso que se trata a democracia? Eles xingam quem eles querem, eu batizo quem quiser ser batizado”, afirmou.
Pedagoga denuncia batismo no Ministério Público Federal
A postagem do pastor Isac foi feita em 22 de agosto, seis dias depois a pedagoga Juliani Caldeira protocolou uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) pedindo investigação sobre o caso.
Ela questiona a participação da vereadora Aninha Carvalho na cerimônia. Parlamentar da cidade de Trindade (GO), ela participa de trabalhos missionários como este realizado em Areões.
Mas a denunciante crítica que alguém representante do Estado esteja em cerimonias religiosas como o batismo de índios.
“Sendo o Estado Laico e sendo a vereadora representante do povo no seu mandato, teria ela o consentimento para entrar em aldeias, levando a sua cultura para um grupo que já possui a sua própria?”, questionou a pedagoga, em trecho da denúncia.