Por Thiago Schadeck
Estamos a menos de dois meses de eleições municipais, onde os cidadãos vão novamente às urnas para escolher aqueles que o representarão na administração de suas cidades. Logo, é de extrema importância que saibam quem irão eleger. Para isso devem investigar a fundo a vida do candidato, saber exatamente quais são as suas propostas e o principal, acompanhá-los depois para poder exigir o cumprimento do que foi dito durante a campanha.
O que mais me preocupam são os pastores que “alugam” seus púlpitos para que esses políticos façam campanhas em seus cultos. Se ainda não chegou um político em sua igreja oferecendo algum “benefício” para o templo ou para os membros em troca de uma breve saudação, certamente logo chegará. Claro que vão se apresentar como amicíssimos dos crentes, citarão versículos da bíblia e se ajoelharão aceitando Jesus (processo repetido em todas as igrejas que forem).
Isso aconteceu com a Dilma quando visitou a AD Brás, do Samuel Ferreira. Na ocasião, ela fez um discurso muito bem alinhado com o que os crentes queriam ouvir. Iniciou sua saudação declarando o Salmo de Davi afirmando que “feliz é a nação em que Deus é o Senhor”, que reconhecia a Soberania de Deus e encerrou pedindo oração ao povo, porque “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”. Discurso ensaiado e lido, mecânico, sem qualquer peso espiritual, mas que foi capaz de arrancar mais aplausos e gritos de glória a Deus que muitas pregações cristocêntricas. Também estava presente o Deputado Eduardo Cunha, que no ano passado foi flagrado recebendo propina. Dinheiro esse que as investigações apontam ter sido lavado na AD Brás, entrando como oferta da empreiteira e sendo transferido a Cunha. Interessante notar que Cunha e Dilma eram “muito amigos”, mas no processo do impeachment da presidente a história mudou bastante.
O Senador Lindbergh Farias, do agora inimigo PT, que recebeu oração do Silas Malafaia durante um dos cultos. Malafaia se defendeu das críticas dizendo que estava fazendo o que era bíblico, orando pelas autoridades constituídas e não fazendo campanha, como diziam. Lindbergh, hoje, é um dos ferrenhos defensores de Dilma e seu governo. Malafaia é um dos mais declarados críticos dela. Oportunismo ou inocência de ambos os lados em se juntar?
O ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, chegou a aceitar Jesus num dos controversos congressos do “Abala São Paulo”, comandado pelo Apóstolo Sérgio Lopes – que elegeu o pastor Lelis Trajano a deputado federal. Depois daquele evento, Kassab nunca mais foi visto em outra igreja evangélica. Isso prova que não foi um encontro com Cristo, mas com cristãos.
Quando morava em Sorocaba, cidade dominada pela maçonaria, um candidato a prefeito visitou a igreja que congregava. Foi recebido no púlpito como “um grande amigo da igreja”, que estava terminando a construção do templo. Por coincidência, ou não, logo após a visita do candidato (maçom declarado), a igreja recebeu a oferta dos pisos e janelas que faltavam. Isso se repete eleição após eleição. Sempre terão as igrejas que alugam seus púlpitos aos candidatos.
Agora quero me dirigir aos pastores!
Caro pastor, pelo amor que você tem a Deus e às suas ovelhas, não alugue de forma alguma o seu púlpito. Não importa qual seja o tamanho da oferta, resista! Quem supre e sustenta a obra é Deus e não esses políticos. Quantas vezes esses políticos que agora batem em sua porta o procuraram até hoje? Certeza que nenhuma. E não vão te procurar depois. Eles só querem usar a você e sua igreja. Eles não defendem o evangelho, pelo contrário, vêem nele uma chance de se promover.
Lembre-se que o púlpito é um lugar de pessoas sérias, comprometidas com o Evangelho e o Reino de Deus, de onde a palavra de Deus é anunciada e não os planos de governo. Se o senhor se presta a fazer do púlpito de sua igreja um palanque político, sinto em te dizer, mas Deus não tolera isso.
Além do mais, no artigo 24 da Lei 9.504/97 está escrito que é “vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie” de entidades beneficentes e religiosas, como limita o inciso VIII. Isso significa que é proibido fazer campanha política na igreja!
Pastor, atente-se somente ao seu chamado e não alugue seu púlpito a nenhum político, por mais honesto ou bem intencionado que ele pareça ser. Nem mesmo se ele for o membro mais antigo de sua igreja. O templo é destinado apenas para atividades que glorifiquem o nome de Deus e ceder espaço a pessoas que não estão dispostas a cumprir uma simples lei, definitivamente não é algo que exalte ao Senhor. Você pode e deve conhecer de política, ter seus candidatos bem definidos, pessoas que representem aquilo que você acredita, mas isso não significa que tenha de fazer isso na igreja. Separe sua cidadania de seu ministério.
Igrejas que lançarão candidatos:
Tenho duas considerações a fazer aos pastores de denominações que lançarão seus candidatos:
Jamais faça o voto de cabresto:
Infelizmente não é raro vermos pastores determinando em quem os membros de suas igrejas devem votar, ameaçando inclusive de punir quem não cumprir a ordem. Colocam o candidato como um Messias que salvará a humanidade.
Se você pensou em fazer isso, pastor, peço que antes responda para si mesmo essa simples pergunta: Você emitiria a esse candidato uma procuração que lhe desse plenos poderes para ser um representante seu, com acesso e transações na sua conta corrente, que pudesse te representar em contratos, assinar cheques em seu nome?
Se a resposta é não, você será desonesto incitando a sua igreja em votar nele. Melhor a consciência limpa que o dinheiro sujo!
Políticos devem ser bons para o povo e não para a igreja:
Cansei de ver pastores defendendo a eleição de um certo candidato porque ele iria conseguir o alvará para a igreja ou que isentaria as igrejas da “Lei do Psiu” (que proíbe barulho após as 22h). Temos que lembrar o simples fato de que os não crentes pagam impostos também! Isso significa que os políticos não trabalham para a igreja que o elegeu, mas para os cidadãos que pagam os impostos, e consequentemente, seu salario. Isso independe de credo, cor, sexo ou idade. Políticos são funcionários públicos e trabalham, ou deveriam, para a população.
Não vote em ninguém pensando no que ele pode fazer pela sua igreja, mas pela sua comunidade. O que ele fará pela população que utiliza serviços públicos. Não seja mesquinho e egoísta achando que a sua igreja é mais especial que as pessoas que não fazem parte dela. Deus não vê dessa forma, afinal Cristo morreu pelas pessoas e não pelas denominações!