Uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp) mostrou que o Espírito Santo é o estado com maior concentração de igrejas evangélicas do país. Em 2019, o estado tinha 93 templos religiosos evangélicos por 100 mil habitantes, a maior em todo o território nacional, o que significa que existe aproximadamente uma Igreja evangélica para cada 1.250 moradores do estado.
Segundo especialistas, esse aumento confirma uma transição religiosa no país.De acordo com o doutor em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo, Edebrande Cavalieri, vários fatores fazem com que o público evangélico venha crescendo ao longo dos anos, não só no estado, mas também em todo o país. “Em primeiro lugar, as igrejas evangélicas implementaram um trabalho de penetração nas regiões mais afastadas, nas periferias. E era onde a igreja católica era muito forte na década de 1970, 1980, até 1990, com as comunidades eclesiais de base. Hoje, também existe uma maior facilidade para as pessoas criarem igrejas. Do ponto de vista burocrático, a criação de uma igreja é muito mais fácil do que você criar uma microempresa”, pontuou Edebrande.
De acordo com a pesquisa, a Região Sudeste abriga o maior número de evangélicos no país, em contraste com a Região Nordeste. Mas o segmento religioso vem avançando em todas as regiões nas últimas duas décadas, sobretudo no Norte e Centro-Oeste. O Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDS), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Sediado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).Em 2019, último ano da série analisada, foram abertas 6.356 Igrejas evangélicas no Brasil, uma média de 17 novos templos por dia.
No topo da lista de estados com maior número de igrejas evangélicas, Edebrande também apontou que o número de padres não aumentou, mas o número de pastores sim. “O número de pastores aumentou absurdamente, é muito rápido e muito fácil você ordenar pastores. As igrejas evangélicas tiveram muito mais dinâmica pastoral, então cada comunidade tem um pastor, o que não acontece com a igreja católica. Com isso, o povo nas periferias consegue sentir que está tendo um atendimento às necessidades imediatas, exatamente onde o estado está mais ausente de políticas públicas, é onde o pastor fala que é possível resolver”, comentou o doutor em Ciências da Religião.
Em 2019, os cinco estados com maior número de Igrejas evangélicas por 100 mil habitantes eram: Espírito Santo Rio de Janeiro Mato Grosso do Sul Rondônia São Paulo.
O que esperar dos próximos anos? O último censo do IBGE de 2010 mostra que mais de um milhão e 800 mil habitantes no estado se declaram católicos apostólicos romanos, para mais de um milhão e 164 mil habitantes que se autodeclararam evangélicos. O especialista em religião pontuou que essa tendência do aumento de evangélicos deve continuar e o próximo censo do IBGE deve apontar uma diferença ainda menor entre católicos e evangélicos. “É uma população que tem necessidades imediatas e que, muitas vezes, o recurso da igreja parece ser o único cabível. Isso pesa muito. Hoje, o Espírito Santo deve estar abaixo dos 50% da população católica. O que tem crescido no mundo atual no Brasil é o número de pessoas sem vinculação com a igreja”, destacou Edebrande.
O censo do IBGE realizado em 2022 ainda não divulgou os dados sobre a religiosidade no país. Segundo o órgão, esses dados sobre religião dependem de um processamento mais detalhado e devem ser divulgados no ano que vem. “Do ponto de vista de uma análise religiosa, os dados atuais apontam para um declínio da igreja católica, declínio de chegar a 20%, 45% da população católica. Isso decorre de uma reação das pessoas mais jovens que não tem mais vinculação religiosa, mas não significa que sejam ateus. Estamos caminhando para uma sociedade secularista como a Europa”, disse o especialista.
Com G1