Por Adenilton Turquete
“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.” (João 10:11-15)
Ser pastor é algo ímpar dentro de um contexto que envolve fé e capacidade de servir. Servir a Deus em primeiro lugar e servir aos homens em consequência de servir a Deus. Nenhum homem pode dizer que serve a Deus sem que demonstre ser servo dos seus semelhantes. As palavras de Cristo falam de dar a sua vida pelas ovelhas. O próprio Jesus foi exemplo disso ao dedicar seu ministério ao serviço, atendendo a cada um que se aproximasse dele. Muitos foram curados, perdoados e agraciados com respostas sábias por parte dEle. Mais tarde o maior exemplo de doação foi quando Cristo doou voluntariante seu fôlego de vida em favor da humanidade.
Dar a vida pelas ovelhas
A dádiva de “dar a vida” não implica, necessariamente, que o pastor dever morrer pelas ovelhas, antes que é seu atributo ministerial a doação de si mesmo, seu tempo, sua paciência, seu ombro, seus ouvidos em favor de sua congregação. No Novo Testamento a palavra pastor, como designação de um oficio ministerial, é encontrada uma só vez, em Efésios 4.11, e vem da palavra grega poimén (ποιμήν), que significa apascentador, guarda, aquele que conduz um rebanho ao pastor, sustentador.
O ministério pastoral exige, senso de responsabilidade, amor e paciência, alegria e abnegação, ordem e humildade. Se este ministério for mal exercido, será a ruína da Igreja. A humildade, ao contrário do que se pensa, ela fortalece a liderança do pastor, pois humildade revela, antes de tudo, amor. Quem é humilde não se ofende, nem revida. A humildade livra o pastor do orgulho e da arrogância.
O pastor deve ter em mente a realidade daqueles a quem serve, os problemas que envolvem sua comunidade, as necessidades básicas das pessoas à sua volta. É dever do pastor dar um tipo de atenção que vá além de cumprimentos carismáticos e admoestações efusivas. As vezes acontece de pessoas se aproximarem de um pastor com determinada expectativa e sairem frustradas com a falta de atenção devida, recebendo uma desculpa qualquer em resposta aos seus anseios.
A ovelha perdida
Um fenômeno impressionante na igreja evangélica brasileira é o êxodo frequente, a migração de pessoas de uma denominação para outra, especialmente nos ramos pentescostais. Uma das principais causas disso, por incrível que pareça, é a falta da devida atenção pastoral à real necessidade daqueles a quem serve.
Se algum pastor estiver lendo esta postagem, sugiro um pequeno exercício mental, memorize quantas pessoas deixaram sua congregação recentemente e quantas delas tiveram sua dedicação e esforço afim de permitir que ela permanecesse congregando contigo. Quantas pessoas que saíram de sua congregação receberam uma visita pastoral, ou o convite para tomar um cafezinho em seu gabinete?
Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai após a perdida até que venha a achá-la? (Lucas 15:4)
Infelizmente vamos ter como respostas muitas desculpas como rebeldia, desobediência, falta de fé, etc., contudo muitas vezes é mais fácil se livrar de uma ovelha trabalhosa do que a dedicação exigida para apascentá-la.
Chamado, dom ou profissão?
As escolas de líderes, formação e capacitação pastoral estão em alta, são muitíssimo concorridas. Paga-se valores altos por palestras e treinamento de pastores. É claro que a capacitação é fundamental. Mas antes de tudo deve-se ter em mente a real motivação que leva alguém a buscar esse nível de capacitação.
A motivação de cada um para o exercício pastoral está atrelada ao caráter daquele que almeja ser pastor. O meio evangélico torna-se campo fértil para pessoas que desejam enriquecer por meio da fé alheia, pois a liberdade religiosa e a facilidade para abertura de igrejas permitem que muitos aventureiros tenham metas eclesiásticas ambiciosas.
A Bíblia nos alerta em tempo e fora de tempo acerca do falso que nos cerca, a Palavra de Deus é nossa orientação quanto a tudo o que está diante de nós. Há textos que alertam sobre os falsos pastores, mas este texto nos fala sobre atributos que nenhum pastor deve evidenciar:
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. (2 Timóteo 3:1-5)
Personalidade, Caráter e Santidade
Se me perguntam: “Que homem é fulano?” Não posso lançar um discurso retórico, é preciso que eu o caracterize em poucas palavras, que eu o descreva segundo seus traços fundamentais de personalidade e caráter. Homens de boa reputação, este foi o primeiro requisito quando os apóstolos decidiriam instituir o diaconato.
A primeira exigência de um líder cristão é santidade, algo que deverá estar evidenciado em seu caráter, uma marca registada deste homem com pessoal. Ele precisa ser sensível ao pecado que outros possivelmente consideram aceitável. Isaías tornou-se sensível a sua fala impura logo que viu o Senhor exaltado no templo. O tremendo som da repetição de “santo é o Senhor dos Exércitos” pelo serafim, estarreceu-o (ls 6.1-3). Ele gritou:”Ai de mim! Estou perdido!” (v.5). Esse foi o efeito que a visão teve no jovem profeta.
É improvável que lsaías usara uma linguagem mais violenta, impura ou blasfema do que seus contemporâneos. Porém, um sentimento de culpa tomou conta dele no ambiente santo que enchera o templo. O véu, que separava a realidade do céu das coisas terrenas, foi partido. Deus preparou Isaías para liderar, fazendo-o completamente miserável diante de sua natureza pecaminosa.
Cheio do Espírito Santo
“Cheio do Espírito” foi o segundo traço de caráter que os apóstolos solicitaram dos líderes que cuidavam da distribuição diária (At 6.3). Há alguma controvérsia com relação ao significado dessa frase, mas é razoavelmente claro que a “plenitude do Espírito Santo”significa três coisas:
Primeiro, significa que o líder tornou-se corajoso e valente. A realidade do Espírito na vida de um homem como Pedro pode ser vista em seu sermão no dia de Pentecostes (At 2), e em sua resposta corajosa aos líderes e anciãos dos judeus, que tinham o poder de colocá-lo na prisão e matá-lo (At 4.8). O encontro de oração, após as ameaças dos líderes do Sinédrio, resultou em um novo encher do Espírito. A conseqüência foi que eles “com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (At 4.31).
Segundo, o enchimento do Espírito é encontrado no zelo e poder evangelístico que Filipe demonstrou em Samaria. Foi tão impressionante a unção pela qual Filipe proclamara Cristo (At 8.6), que multidões deram atenção ao que disse. Além do mais, os demônios gritavam quando foram expulsos das pessoas possuídas. Ele realizou milagres poderosos de curas de doenças físicas (v.7). Atualmente, não exigimos de líderes de organizações cristãs que realizem milagres, mas zelo por Deus e seu Reino são evidências claras da presença do Espírito.
Terceiro, a plenitude do Espírito significa que o líder não está sozinho. Ele tem um “assistente divino”. Sem o Espírito, será que Filipe saberia que precisava deixar o ministério frutífero em Samaria e viajar à Gaza para unir-se ao carro do eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes (At 8.26-31)? Permanece de importância máxima que o líder saiba a mente do Senhor antes de tomar decisões que venham afetar a sua vida e a vida de outras pessoas. Todos os filhos de Deus devem ser guiados pelo Espírito (Rm 8.14) ou “andar no Espírito” (GI 5.16,25), mas é ainda mais importante que o líder seja assim liderado. Suas decisões afetam mais pessoas. Sua vida chama a atenção como um modelo exemplar.
O princípio do Amor
Existe alguma qualidade de que um pastor careça mais do que o amor? O mundo se deteriora rapidamente devido ao egoísmo que penetra nossa cultura. O “fazer algo de forma correta” tomou o lugar do “fazer o bem”. Essa é a nova prioridade do nossos dias, colocando o amor em segundo plano.
O controle de qualidade se tornou mais importante do que o sacrifício em favor de outras pessoas. O “salvar a vida” por meio da “perda dela” por Cristo e pelos necessitados não é mais algo popular, atualmente, embora seja o ponto central daquilo que Jesus exige de seus seguidores (Lc 9.23-24). O amor é mais importante no Novo Testamento do que os dons espirituais ou o conhecimento (1Co 13; 8.1). Um pastor sem amor é como um corpo sem o coração. Morto e sem sentido que promove vaidade, em vez de maturidade cristã.
Paulo escreve para os Coríntios que o amor de Cristo nos constrange (2Co 5.14). Significa que qualquer pessoa que sente intimamente o amor que Cristo tem por ela, desejará segui-Io, e servi-Io. O custo do sofrimento e do esforço não é importante. A lealdade estabelece as raízes firmes nos corações daqueles que sentem que seus pastores verdadeiramente os amam.
É por isso que Jesus fez o contraste entre o mercenário e o pastor, em João 10. O mercenário não é o dono das ovelhas, nem se preocupa com o que acontece com elas. Quando o lobo aparece, ele foge. Não sente nenhuma necessidade de arriscar sua vida pelo bem-estar e proteção das ovelhas. O amor do pastor, ao contrário, é tão íntimo e sacrifical que ele dá a sua vida pelas ovelhas.