Oficialmente, as próximas eleições para presidente só ocorrerão daqui a dois anos e meio. Mas o clima de instabilidade política, causado pelo processo de impeachment, pode resultar em um pleito presidencial ainda este ano.
Para isso, Dilma precisa ser afastada e o vice Michel Temer sai junto por ter seu nome envolvido de forma inequívoca ao mesmo processo. Ou seja, seria necessário um impeachment duplo. Pela Constituição, isso colocaria a nação sob o comando do presidente da Câmara, que deve convocar novas eleições dentro de 90 dias.
Segundo a pesquisa mais recente do Instituto Datafolha, Marina Silva (Rede Sustentabilidade) seria a favorita. Dependendo dos adversários, ela tem entre 21% e 24% das intenções de votos.
O cenário proposto pela Datafolha com menor diferença tem Marina (21%), Aécio Neves (PSDB, com 19%), e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 17% da preferência do eleitorado. Contudo, considerando a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, os três estariam empatados tecnicamente.
Caso os candidatos forem Geraldo Alckmin (PSDB) ou José Serra (PSDB), Lula ficaria em segundo lugar e Marina seria a eleita.
Ainda segundo o Datafolha, Aécio foi quem mais perdeu nas simulações. Saiu de 24% das intenções, em fevereiro, para os 19% de agora. O motivo é a menção de seu nome nas delações premiadas da operação Lava Jato.
Em 2014, Marina chegou a ser apontada como favorita, mas devido a maciça campanha contra ela feita na televisão no horário do Partido dos Trabalhadores, acabou nem chegando ao segundo turno.
Após a morte de Eduardo Campos, ela assumiu a chapa do Partido Socialista do Brasil (PSB) e finalizou o pleito em 3º lugar, com 22.159.951 votos (21%). Um aumento de mais de dois milhões de eleitores em comparação a 2010, quando disputou pelo Partido Verde e fechou a apuração com 19,6 milhões de votos (19%).
Entre os evangélicos, as opiniões parecem divididas desde que seu nome começou a aparecer no cenário político com expressão. No passado, foi apoiada por líderes importantes como Silas Malafaia, mas acabou recebendo muitas críticas por não se posicionar claramente sobre questões que conflitam diretamente com as bandeiras tradicionais dos cristãos conservadores.
Em 2010, o nome de Marina Silva foi ligado a diferentes profecias que seria presidente, especialmente as da apóstola Valnice Milhomens. No ano seguinte, o pastor americano Bob trouxe a revelaçãodurante a Conferência Dunamis que Deus levantaria “uma mulher cristã” para comandar o país.
Nas eleições de 2014, o pastor André Salles, que evangelizou e batizou Marina afirmou: “Vejo o próprio Deus preparando o caminho para ela passar. O Senhor tem esse propósito para a vida dela, de ser presidente do Brasil”.
Religião e política marcam sua biografia
A história de vida de Marina Silva é marcada pela superação. Mas a política e a religião foram determinantes para chegar a sua condição atual. Quando jovem, a menina pobre nascida no interior do Acre queria ser freira, acabou indo para Rio Branco onde conseguiu emprego como empregada doméstica.
Chegou a ingressar no convento Servas de Maria, mas acabou optando pela carreira de professora. Foi estudar História na Universidade Federal do Acre, onde se politizou e acabou filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Passou a militar no Partido Revolucionário Comunista (que era clandestino). Contudo, em 1985 filiou-se ao PT. Em 1988 foi eleita vereadora pelo partido. Prosseguiu na carreira política, eleita deputada estadual na eleição seguinte. Nessa época (1995), Marina se converteu na igreja Assembleia de Deus.
Foi senadora por dois mandatos, sendo posteriormente empossada Ministra do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2008. Em 2004, foi ungida missionária da Assembleia de Deus.
Com diferentes mudanças de partido nos últimos 8 anos, ela sempre manteve o discurso de base marxista e ampla defesa das questões ambientais. Na onda de protestos que tem sido frequentes no país nos últimos dois anos, não foi vista publicamente em nenhum deles.
Entre seus pronunciamentos públicos mais recentes, Marina afirmou que não se pode condenar Lula “a priori” tampouco “desqualificar” as irregularidades já denunciadas à Justiça e ao Ministério Público. Disse apenas que é preciso aguardar o andamento das investigações.
Segundo o jornal O Globo, o partido Rede Sustentabilidade, liderado por ela, está dividido sobre a votação do impeachment. Parte da legenda apoia, crendo que há razões para o afastamento de Dilma. Marina acredita que não há e por isso não deu um posicionamento oficial de como a legenda deve votar.