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Em seu voto, Moraes afirmou que as declarações de Bolsonaro não chegaram a caracterizar “discurso de ódio” e estiveram dentro dos limites da crítica política. Para Moraes, a proteção da Constituição aos deputados por suas opiniões não abrange o discurso de ódio, mas as declarações do capitão não chegaram a configurar essa hipótese. A Constituição afirma que os parlamentares não podem ser processados por suas “opiniões, palavras e votos”.
“Não me parece que caracterizam essas frases, por piores que tenham sido, a incitação à violência física e psicológica contra negros, refugiados e estrangeiros, o que, aí sim, caracterizaria discurso de ódio e, aí sim, estaria fora dos limites da imunidade [parlamentar]”, disse Moraes.
“Eu não tenho nenhuma dúvida sobre a grosseria, a vulgaridade e, em relação aos quilombolas, total desconhecimento da realidade nas declarações que foram feitas pelo denunciado”, disse o ministro. O julgamento havia sido suspenso há duas semanas por um pedido de vista de Moraes quando o placar estava empatado por dois votos a dois. Os ministros Marco Aurélio Mello e Luiz Fux votaram contra o recebimento da denúncia, e os ministros Luís Roberto Barroso e Rosa Weber defenderam o recebimento da acusação. A Primeira Turma é composta por cinco ministros. Na fase de recebimento da denúncia, cabe à Justiça analisar se a acusação traz elementos suficientes para que seja dado prosseguimento à ação. Se houver, é aberto um processo penal e o investigado se torna réu. Apenas ao fim do processo é que há decisão sobre se o investigado é culpado ou inocente das acusações. Bolsonaro foi acusado de racismo pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por sua fala em palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril de 2017.
Segundo a Procuradoria, o deputado teria usado expressões de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários grupos sociais. A denúncia cita frases de Bolsonaro no evento, como essa sobre os quilombolas: “Eu fui em um quilombola [sic] em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado [sic] com eles”. A Procuradoria afirma que Bolsonaro “tratou com total menoscabo os integrantes de comunidades quilombolas. Referiu-se a eles como se fossem animais, ao utilizar a palavra arroba. Esta manifestação, inaceitável, alinha-se ao regime da escravidão, em que negros eram tratados como mera mercadoria, e à ideia de desigualdade entre seres humanos”, diz trecho da denúncia. A defesa de Bolsonaro diz que suas falas buscaram criticar as políticas de demarcação de terras.
O presidenciável ainda não comentou sobre a decisão do Supremo, mas nas redes sociais seus apoiadores celebraram o reconhecimento de sua inocência declarada pelo STF.