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Pesquisa aponta quadro de dependência da internet em estudantes gurupienses

Em tempos de pandemia o uso da internet foi intensificado devido às novas demandas de um período atípico para a população com a migração de grande parte dos serviços para o mundo digital. Esse fator que ao mesmo tempo pode ser visto como alternativa para amenizar o impacto negativo do isolamento social, também pode causar ou agravar problemas mentais quando realizado em excesso. É o que avalia o psicólogo e professor em Gurupi, Jeann Bruno Ferreira.
“Em 2017, juntamente com um grupo de pesquisadores, realizei uma pesquisa científica com estudantes de uma universidade pública em Gurupi e foram identificados casos leves em cerca de 60% dos alunos que usavam de forma excessiva os aparelhos eletrônicos para acessarem a internet. Agora em tempos de pandemia esse alerta deve ser reforçado, pois os números de pessoas que apresentam algum tipo de mudança no comportamento podem ter crescido”, alerta o Psicólogo.
De acordo com o profissional, se a pesquisa fosse aplicada atualmente os resultados poderiam ser diferentes. “Com o advento da pandemia e o isolamento social as pessoas passaram a interagir por meio das mídias digitais e isso possibilitou uma conexão mais afinco entre pessoas de diversos lugares e, consequentemente, mais tempo utilizando dispositivos eletrônicos, inclusive, para trabalhar e estudar caracterizando um possível aumento nos casos de dependência”, afirma Jeann Bruno.
Um fenômeno que mesmo antes da pandemia já era um problema que provocava alterações nos hábitos e comportamentos da sociedade, o que caracteriza quadros de dependência, agora merece uma atenção especial devido a sua potencialização diante da necessidade de continuar conectado ao mundo mesmo em época de limitações.
Cuidados
Para o psicólogo é importante que a população faça uma espécie de “detox digital” frequentemente. Para ele, as pessoas que utilizam muito a internet devem tentar se desligar do mundo digital, quando possível, e se conectar ao mundo real por meio das relações sociais. “Ao final de cada aula, de cada reunião ou final do dia podemos fazer um esvaziamento, uma limpeza de conversas aleatórias, daquilo que não agrega. Devemos tornar nosso ambiente externo mais atraente que o mundo digital”, comenta.
O profissional explica que os efeitos da falta do uso de dispositivos eletrônicos são semelhantes aos efeitos da abstinência de drogas. “A abstinência pode causar alterações cardiorrespiratórias, déficit de atenção, concentração, agitação psicomotora e irritabilidade. Esse tipo de dependência causa sérias consequências não só para o sujeito mas para todos que estão envolvidos no ambiente de trabalho, de estudo ou mesmo familiar onde as interações sociais passam a ser ocupadas pelas interações digitais”, frisa o psicólogo.
Como identificar os sintomas
Segundo o profissional, os sintomas da dependência são percebidos pelas pessoas que convivem com o indivíduo, e que por isso é muito importante ouvi-los e buscar um acompanhamento profissional caso perceba que não consegue se desligar por conta própria.
“Em muitos casos o psicólogo é essencial para essa ajuda, quando a situação se agrava mais é necessária intervenção psiquiátrica ou neurológica, tendo em vista que o cérebro gera um mecanismo de recompensa quando temos acesso às redes. Então pode ser que em alguns casos até o uso de medicação seja recomendado por médicos especialistas”, reforça Jeann Bruno.
Estudo sobre propensão à dependência da internet
A pesquisa realizada pelo psicólogo e professor Jeann Bruno Ferreira no ano de 2017 teve como objetivo investigar a propensão à dependência da internet em universitários de Gurupi e para isso foi utilizado o método quantitativo, no qual foram entrevistados 363 acadêmicos dos 15 cursos oferecidos em instituição de ensino superior.

No estudo, os estudantes que foram classificados como usuários normais ocuparam a porcentagem de 17%, enquanto os dependentes leves ocuparam 60%, já os dependentes moderados 22% e os dependentes considerados como usuários graves representaram 1% da amostra. Tendo em visto esses números, a pesquisa apontou para a existência de uma dependência leve, seguida dos dependentes moderados entre os estudantes.

Atualmente, a questão da dependência da internet demanda uma atenção maior da população devido a pandemia e isolamento social e, principalmente, estudantes e profissionais que precisam intensificar o uso das redes identificam a necessidade de colocar limites.

As estudantes de Gurupi Ana Caroline de Andrade e Rebeca Rezende Rosário comentam sobre como procuram se “blindar” dessa dependência mesmo tendo que utilizar mais os dispositivos eletrônicos.

“Já que preciso, por questão de necessidade, estar na internet várias vezes ao dia, procuro limitar meus momentos de lazer a outros tipos de diversão, mas confesso que é difícil, quase todas as minhas horas livres ainda envolvem a internet. Acredito que é uma evolução constante, e é preciso saber até que ponto esta conexão faz bem”, explica Ana Caroline ressaltando que quando percebe que seu dia não está rendendo como deveria, busca identificar como mudar isso.

O que também é compartilhado por Rebeca que explica ficar atenta a sua produtividade, se perceber que não produziu o quanto deveria procura refletir a respeito do uso do celular. O que segundo ela é raro acontecer.

“Eu utilizo uma função que indica semanalmente o quanto usei cada aplicativo, e isso me ajuda a regular um pouco esse uso. Tento sempre diminuir, mas não observo que o meu uso tem me dado indicativos de possíveis problemas mentais, pois uso a internet para diversas coisas, dentre elas, para entretenimento, o que acaba me fazendo bem. Não vejo como ideal o meu tempo de uso, mas também não vejo como prejudicial”, destaca a estudante.

Não é novidade para ninguém que a internet tem destaque significativo na vida de grande parte da população, e inclusive é uma ferramenta de extrema necessidade para todos durante a pandemia. O importante conforme ressaltado pelo psicólogo Jeann Bruno e exemplificado pelas estudantes é observar até que ponto esse uso é saudável, saber identificar possíveis excessos e buscar ajuda quando necessário.

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