Da redação
As afirmações da jornalista viralizaram rapidamente alcançando milhares de internautas que entenderam tratar-se de um sequestro.
Damares falou sobre a polêmica criada pela revista em entrevista ao site Terça Livre.
A ministra defendeu-se e disse que tudo é feito para atacar o governo Bolsonaro e desestabilizá-lo.
Damares Alves é uma das ativistas pró-vida mais competentes do país e seu trabalho como pastora causa ira na esquerda. Agora, como ministra do governo Bolsonaro, tornou-se alvo da mídia progressista que tenta, de todas as formas, macular sua imagem.
Confira a entrevista:
Terça Livre: Segundo informações das redes sociais, a senhora esteve em uma aldeia chamada Kamayurá há 15 anos, levou uma menina para fazer tratamento dentário e jamais a devolveu. A história procede?
Damares: “Não, eu nunca estive na aldeia Kamayurá, eu nunca estive no Xingu, nenhuma das etnias do Xingu foi visitada por mim. Essa criança, que hoje é uma moça linda, minha filha, foi trazida por uma missionária que estava visitando a aldeia. Essa missionária participou do quarup (ritual do Xingu) e ficou mais alguns dias na aldeia porque ela daria socorro a uma menina que não anda. Essa missionária traria essa criança que não anda e essa criança que não anda hoje é uma moça, está aqui, é a Kanhu Kamayurá, que é prima de minha filha. E quando tirou-se a Kanhu com a família, quando eles saíram da aldeia com a missionária, também trouxeram junto a Lulu Kamayurá que é minha filha. A Lulu estava muito doente e os pais autorizaram que Lulu viesse com esses tios, que são os pais de Kanhu. Então sai uma família da aldeia com a filha e com a sobrinha, mas em Brasília já morava conosco uma outra tia de Lulu que se chama Kamiru, que é mãe do Amalé, e já moravam conosco os dois irmãos mais velhos de Lulu. Então quando Lulu chega na cidade com os tios, pais de Kanhu, estavam aqui a tia Kamiru, os dois irmãos e tinha também um tio muito especial da Lulu morando aqui, que é o Pautu Kamayurá. Pautu Kamayurá é o primeiro doutor do Xingu, ele estava fazendo doutorado na UNB. Então a Lulu ficou cercada pela família, morando na instituição nossa com a família, até que ela não pôde continuar na instituição e foi morar comigo na minha casa. Desta forma que Lulu chega na minha vida. Vem para ficar na instituição, pra ser tratada, a instituição não pôde mais ficar com ela porque era muita gente, e eu me propus a ficar com uma das crianças da instituição cuidando. E a criança que eu me apaixonei foi a Lulu. Lulu está comigo até hoje.”
Terça Livre: Há também alegações de que os índios estariam pedindo o retorno da menina: “Queremos Lulu de volta“, afirmam. A senhora pode nos esclarecer esta afirmação?
Damares: “Isto não procede. A Lulu tem pai e tem mãe, tem irmãos e tem sobrinhos. Quem decide sobre a Lulu são os pais dela. Então, os índios não estão pedindo, porque Lulu veio pra cá com a anuência dos pais. Lulu mora em Brasília com os irmãos e com os tios. Os pais da Lulu vem pelo menos três vezes por ano à Brasília ver Lulu. Os pais nunca pediram pra Lulu voltar. E Lulu, ela quer estudar, terminar a faculdade, e os pais apoiam a ideia dela terminar a faculdade. Então essa história que os índios estão pedindo… os índios, quem manda nos seus filhos são os pais, e os pais da Lulu nunca pediram a volta da Lulu. Eles concordam que ela permaneça na cidade até terminar a faculdade.”
Terça Livre: São comuns relatos de enterros de crianças vivas. Pode explicar ao leitor como isto ocorre?
Damares: “São comuns sim. E aqui quero lembrar que recentemente o Brasil ficou chocado com uma história que não foi contada por mim. No início, quando começamos a falar do infanticídio, era sim a minha instituição que trazia os relatos para a sociedade, mas há seis meses atrás o Brasil foi surpreendido com um caso em Canarana (cidade do Mato Grosso). O caso de Canarana. Ele é emblemático e precisa ser considerado. Uma adolescente de dezesseis anos Kamayurá, da mesma aldeia da minha filha e prima de segundo grau da minha filha, essa menina morava na cidade de Canarana junto com os pais, há mais de dez anos. E essa menina engravidou. Uma gravidez de mãe solteira. Quando o bebezinho nasceu, tanto a menina quanto seus pais queriam o bebê, mas a avó, que no caso bisavó da bebê, sai lá da aldeia nos dias que ela estava para dar à luz, vem à Canarana pra cumprir o ritual em Canarana, e essa bebezinha foi enterrada no fundo de um quintal na cidade de Canarana, mas a mãezinha e os pais dela queriam o bebê e choravam muito alto, porque não queriam que a bisavó enterrasse a menina. De tanto eles chorarem e gritarem, houve todo um tumultuo ali no quintal os vizinhos ouviram e chamaram a polícia. A polícia pra entrar numa residência tem que ter um mandado judicial. E a polícia foi pedir autorização a um juiz pra entrar naquela residência pra ver o que tinha acontecido. Entre a polícia descobrir, os vizinhos denunciarem e a polícia conseguir um mandado judicial, demorou sete horas. Quando a polícia chegou no quintal pra desenterrar o corpo da bebê, milagrosamente a bebê estava viva! Essa história aconteceu dentro da cidade. Eu quero que você imagine o seguinte: se na cidade uma senhora enterra uma criança, vocês conseguem entender o que acontece nas aldeias? Então essa história emblemática que inclusive a imprensa divulgou, serve de parâmetro para vocês entenderem que não é uma coisa do passado. Ainda hoje no povo Kamayurá existe o sacrifício de crianças sim. Eles estão superando isto? Estão. Tanto que a minha filha não foi sacrificada. A mãezinha biológica dela não pôde ficar com ela e essa família adotou ela. Os pais que ela chama de pais não são pais biológicos, são pais adotivos na aldeia que ficaram com ela quando a mãezinha dela não pôde ficar com ela. Então Lulu, se não tivesse essa família na aldeia que tivesse ficado com ela, Lulu teria sido sacrificada.
Bem, explicando que esses enterramentos de crianças vivas, explicando melhor, esta questão ainda, nós temos trezentos e cinco povos indígenas no Brasil, em torno de vinte ainda matam suas crianças. Matam quando nascem com alguma deficiência ou quando adquirem a deficiência, por exemplo, que se descobre com quatro, cinco meses, ou seis, que a criança é surda. Não é exatamente na hora do parto, no momento que a criança demonstra uma deficiência, alguns povos ainda sacrificam a criança com deficiência, porque eles não sabem o que fazer com a criança com deficiência. Então pra criança não sofrer, eles enterram elas bebezinhas.
Bem, enterram vivas porque eles acham que a dor é menor se enterrar viva. Eles não querem sacrificar, tirar sangue da criança.
Segundo, em que situações essas crianças morrem? Crianças com deficiência, existe a aldeia, inclusive a da Lulu, a aldeia Kamayurá, no caso de crianças gêmeas, eles acham que a alma se dividiu entre o bem e o mal, não sabem qual é o bebê do bem e o bebê do mal, enterram os dois. No caso de paternidade duvidosa, o pai acha que não é pai da criança, então a criança também é levada a sacrifício, e qualquer outra situação que o pajé considere que a criança é amaldiçoada.
Então existe sim o sacrifício, mas não são todos os povos. É um grupo pequeno de povos indígenas no Brasil que ainda sacrificam as crianças.
Os índios amam suas crianças. Eles eliminam algumas crianças, porque eles não sabem o que fazer. Então cabe a nós brancos, que entendemos que tem jeito pra uma criança surda, que ela pode usar um aparelho, que ela pode falar em libras, cabe a nós dizer o que fazer com esta criança. Crianças com lábios leporinos, em algumas aldeias destes vinte povos, enterram crianças com lábios leporinos, fissura palatal, duas cirurgias resolvem! Cabe a nós apresentar para os índios que existe uma cirurgia que resolve o problema.
Então, a gente não pode se omitir, porque eles querem as crianças vivas, mas nós temos que ensiná-los que todas as crianças podem ficar vivas e podem ser felizes, e ter uma vida normal.
Os índios sofrem no sacrifício e os índios amam suas crianças.”
Terça Livre: Para adoção de crianças indígenas, a legislação exige passagem pela Justiça, com aval do Ministério Público Federal e Funai. A senhora passou por este processo e possui a documentação?
Damares: “Não! Lulu não estava disponível para adoção! Lulu não precisava ser adotada! Lulu não é órfã! Lulu tem pai, mãe, família, irmãos, tio, ela não precisava ser adotada. Eu sou mãe afetiva. Eu proporcionei à Lulu, educação, saúde, qualidade de vida, Lulu veio morar na minha casa e a partir daí a gente desenvolve um laço afetivo. Eu sou mãe sócio-afetiva! Não precisava adotar essa criança. Lulu tem família, por isso que eu não fiz o procedimento, e como os tios moravam com a gente, e com a gente que eu falo é na instituição, os tios eram os responsáveis legais pela Lulu na cidade. Então não precisava de nenhum documento pra mim ser a representante legal dela. Em algumas viagens que Lulu fez comigo antes dos doze anos, quando a gente ia fazer uma viagem de família, passar férias em um outro estado, os pais dela vinham em Brasília e me davam uma declaração que ela podia viajar e aí eu comprava a passagem aérea, passagem de ônibus ou de carro. Lulu viajava comigo no período de férias, com autorização dos pais. Esse procedimento existia.”
Terça Livre: Circulam informações de que a senhora negará pedidos de indenização de Lula e Dilma, e que trabalha para fechar a Comissão da Anistia. Estas informações são verdadeiras?
Damares: “A Comissão de Anistia chegou agora no ministério dos Direitos Humanos, eu ainda vou me debruçar sobre os processos que estão lá e eu vou fazer análise técnica de todos os pedidos de indenização, todos os pedidos de anistia. Então vamos aguardar esses processos chegarem, não houve acesso a nenhum processo ainda, mas o critério usado será o critério técnico, para conceder ou não, anistias nos processos protocolados.”
Terça Livre: A senhora atribui estas publicações sobre a menina indígena a algum tipo de perseguição?
Damares: “Claro! Claro que sim! O objetivo é desestabilizar esta ministra, o objetivo é alcançar uma ministra de Bolsonaro, o objetivo é alcançar o governo Bolsonaro. E por que a mim exatamente? Porque o ministério que eu estou conduzindo, é um ministério repleto de viés ideológico, e eu venho com uma outra visão ideológica de tudo que foi conduzido até aqui e agora, na área de direitos humanos. Eu venho com uma outra visão e a gente vem com uma outra proposta que são as políticas públicas que Bolsonaro anunciou. Quais são? Proteção da família, o combate à ideologia de gênero, o combate à pedofilia, o combate à legalização das drogas, o combate à doutrinação ideológica na escola. Este ministério vai fazer tudo isso, mas este ministério trabalha também no combate ao crime organizado. Nós vamos trabalhar contra a pedofilia, o abuso sexual de crianças, a exploração sexual de crianças, o tráfico de mulheres, a violência contra a mulher… Esse ministério também trabalha no combate trabalho escravo. Então assim, este ministério lida com temas com muito viés ideológico, e muita gente não me quer neste ministério. Mas muita gente não me quer, não é só por causa do viés ideológico, muita gente não me quer nesse ministério porque sabe que vou trabalhar, muito, no combate à corrupção, vou abrir pastas, vou rever processos, vou rever convênios, e o que passou por este ministério, e que passa por este ministério, que tiver indício de corrupção, esta ministra vai trazer à público! Esta ministra não vai se omitir em pedir prisão, em pedir processo, em pedir reparação de danos, essa ministra não vai se omitir, se observar indício de corrupção.”