Mais difundida no ambiente virtual, a linguagem neutra surgiu como uma forma de substituir palavras masculinas e femininas por elementos neutros. Também chamada de neo linguagem e linguagem binária , seu uso tem a intenção de acolher as pessoas que não se identificam ou não se sentem confortáveis com os pronomes masculinos e femininos existentes na gramática brasileira.
Pela proposta de uso, a linguagem neutra substitui os artigos “o” e “a” nas palavras por “x”, “@” ou “e”. Assim, por exemplo, “todos” e “todas” ficam “todes”, “aluno” e “aluna” ficam “alunx”. A intenção de padronizar o uso dessa linguagem tem sido alvo de debates em escolas e até no congresso.
Desde a popularização do uso até atualmente, pelo menos quatro projetos de lei para proibir a utilização da linguagem neutra nas escolas do país já foram apresentados ao Congresso Nacional. Por enquanto, continua formalmente obrigatório o uso da norma culta da Língua Portuguesa por instituições públicas e privadas de ensino e bancas examinadoras de concursos públicos no país.
No contexto escolar, a professora de redação Letícia Flores acredita que é questão de tempo para que professores passem a falar sobre a linguagem neutra nas salas de aula. “Na minha opinião, o caminho é esse. Os professores vão precisar de um didatismo para ficar claro para esses jovens, e até mesmo para os pais, que é dever do professor, em seu papel social, não só transmitir conteúdo, mas de apresentar e explicar a ocorrência da linguagem neutra na nossa língua. Agora, esse conteúdo não pode chegar na sala de aula de qualquer forma. Isso tem que ser planejado porque essa linguagem ainda é considerada um desvio da norma padrão”, salienta a profissional.
A professora explica, ainda, que a Língua Portuguesa, assim como qualquer outra língua, é um código, e a linguagem neutra é um código que serve aos falantes no processo de comunicação. “Se a língua serve ao falante, ela vai evoluindo, se transformando de acordo com a necessidade das pessoas. Por isso, é natural que a linguagem neutra ganhe força”, afirma.
O que exige o Enem
De acordo com o Portal do Ministério da Educação (MEC), a correção da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é feita com base em cinco competências: dominar a escrita formal da língua portuguesa; compreender o tema e não fugir do que é proposto; selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecer os mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação e respeitar os direitos humanos.
A professora Letícia Flores explica que a correção da redação do Enem está submetida à norma padrão da Língua Portuguesa. Nesse caso, a linguagem neutra ainda é vista como desvio de linguagem, um vício da norma padrão, e tratando-se de uma prova o aluno está submetido às normas padrões da língua.
“Pode ser que o aluno perca ponto por usar a linguagem neutra no Enem. A penalização de cada competência acontece de 40 em 40 pontos, então você vai de 0 a 200 para cada competência e vai somando de acordo com a qualidade textual em relação a essas competências. Na dúvida, é melhor não arriscar”, defende a professora.
Governo de Rondônia
O Governo do Estado de Rondônia sancionou uma lei que proíbe o uso de linguagem neutra nas escolas públicas e particulares. O projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa foi validado pelo governador Coronel Marcos Rocha (PSL) e já está em vigor.
A lei estabelece que fica “expressamente proibida a linguagem neutra na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas, assim como em editais de concursos públicos”, e que os professores e instituições poderão ser punidos se não obedecerem.
Ao sancionar a lei, Rocha justificou que é necessário criar “medidas protetivas ao direito dos estudantes ao aprendizado da língua portuguesa de acordo com a norma culta”.
A linguagem neutra é estimulada por grupos LGBTQ+ para incluir pessoas não-binárias, isso é, indivíduos que não se identificam com o sexo feminino e nem com o masculino, além dos que se identificam como as duas coisas.
Para “incluir” esse grupo, se ensinam palavras modificadas como ‘amigues’, ‘todes’ e os pronomes ‘elu/delu’, ou então colocam o ‘x’ no lugar do ‘a’ ou ‘o’. Algumas instituições pelo país, por exemplo, escrevem “sejam bem-vindxs” para receber novos alunos.
Fonte: Agência Educa Mais Brasil