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Agrotins 2022: Produtoras tocantinenses utilizam tecnologia, sustentabilidade e inovação para se diferenciar no setor

Em um espaço majoritariamente masculino, o agronegócio está cada vez mais sendo ocupado por mulheres. E no Tocantins, não é diferente, com empreendimentos de sucesso e práticas sustentáveis em suas produções, pecuaristas e produtoras utilizam de toda a tecnologia disponível para uma sistema de produção que respeita a ciclicidade dos ambientes e a harmonia dos animais com eles.

Essa reportagem apresenta dois exemplos de mulheres produtoras tocantinenses que produzem em larga escala e com sustentabilidade, o que vai ao encontro do tema deste ano da Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins (Agrotins 2022) – Integrar, Intensificar para Preservar. A Agrotins 2022, que ocorrerá de 10 a 14 de maio, no Parque Agrotecnológico de Palmas, é uma realização do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Aquicultura (Seagro) e parceiros.

Entre as diversas produtoras que atuam no Estado, está a pecuarista, formada em veterinária, Aline Kehrle, que tem uma fazenda de cria em Aliança do Tocantins. Com a influência da família, que possui fazenda no Tocantins desde a década de 80, Aline está nesta atividade desde 2013, quando assumiu os negócios do avô. E desde então, juntamente com o esposo Marcos Spinella, tem tocado o negócio com uma visão sustentável, trabalhando com uma agropecuária regenerativa.

“Trabalhamos com agropecuária regenerativa, sistema de pastejo ultradenso, que é algo bem diferente. Usamos um conceito do biólogo Allan Savory, que imita as manadas silvestres africanas com relação à maneira como eles pastam, usamos esse conceito com o gado. Essa é a principal característica da nossa propriedade hoje, trabalhar com o sistema a pasto, bem intensivo”, relata a pecuarista Aline Kerhle.

A pecuarista destaca ainda que o diferencial desse tipo de produção é observar o sistema como um todo, pois tudo interage com o animal. “O que seria esse diferencial é que um gado criado exclusivamente a pasto, da maneira como o ruminante evoluiu para ser. É um sistema que respeita muito a condição ambiental, então nós não usamos nenhum tipo de herbicida ou adubo inorgânico de maneira consistente, somente na formação de pasto, depois não usamos mais. Nós buscamos ver o sistema todo como um todo, então as águas, a topografia, a interação com o animal, isso tudo é bem observado e isso vem ao encontro do que o consumidor quer, principalmente o urbano. Existe uma má imagem da pecuária, como degradante do ambiente e, com isso, conseguimos mostrar que dá para fazer de um jeito diferente, com esses sistemas mais sustentáveis e regenerativos da pecuária regenerativa”, conclui Aline Kerhle.

Da Terra à Boca

A pecuarista Vivian Machado, produtora da carne Wagyu Akaushi, em Barra do Ouro, no Norte do Estado, também realiza uma produção totalmente a pasto, dentro de um sistema holístico de produção. Desde 2010, quando assumiu o empreendimento dos pais, tem apostado em uma produção sustentável, ao criar a marca de carne Akaushi Brasil e produzir carne premium em um sistema de produção denominado Da Terra à Boca, juntamente com o seu esposo Ricardo Marques.

“Além de cumprir integralmente todas as normas legais vigentes, possuímos um sistema holístico, com sombreamento nativo de pastagens, respeito à ciclicidade dos ambientes, à utilização de homeopáticos e probióticos nos animais, ao manejo de pastagens rotacionado com utilização mínima. Na verdade, ainda não utilizamos herbicidas, devemos fazer uma aplicação este ano, dependendo de como estará as pastagens. Inseticidas não são e não serão utilizados”, afirma a pecuarista e advogada ambiental, Vivian Machado, ao falar da sua produção.

Sobre o sistema de produção Da Terra à Boca, Vivian esclarece que essa denominação se deve ao fato deles cumprirem toda a cadeia de produção até o consumidor final. “Nossa produção vai desde a microbiota do solo até a microbiota do corpo humano. Desde a cria até o pós-venda”, declara.

Produção sustentável em grande escala

Um mito constantemente afirmado sobre as produções sustentáveis e que respeita o bem-estar animal, é que não é possível produzir em larga escala. Com mais de três mil fêmeas reprodutoras, Aline Kerhle discorda. “É totalmente possível, nós somos uma propriedade média/grande e não há limitação. Existem fazendas trabalhando com 20 a 30 mil cabeças, trabalhando nesse sistema fora do Brasil, o tamanho da produção não é problema. Muitas vezes, isso é questionado por causa de alguns tipos de agropecuárias como agroflorestas ou sistemas orgânicos que são dificilmente escaláveis, o que não é o caso, porque esse sistema se trabalha com manadas, então por aí já se pode imaginar que dá pra trabalhar com grandes escalas”, complementa.

A pecuarista e advogada ambiental Vivian Machado acrescenta que, quando se trata de uma produção sustentável, é igual em qualquer escala de produção, porém os investimentos são maiores. “A produção sustentável, seguindo o conceito tradicional dos três pilares, é igual em qualquer escala. Contudo, há que se ressaltar a questão da localização da propriedade, em razão das diferenças de tamanho de área de Reserva Legal, o que pode impactar nos custos de produção dessas áreas, o que interfere diretamente na produtividade. Já a orgânica tem um custo mais alto e um processo bem mais minucioso. É possível sim produzir em grande escala, mas os investimentos são grandes”, destaca.

Mulheres no Agronegócio

Sobre os desafios de atuarem em um setor que é majoritariamente masculino, as pecuaristas destacam que há uma certa resistência, mas que, com profissionalismo e conhecimento, essas barreiras são vencidas. “Existe uma certa necessidade de você provar um pouco mais da sua capacidade, por você ser mulher, aparentemente tem que se esforçar para mostrar que você entende, que você é capaz, que tem tudo o que é necessário para que você vá bem na atividade”, ressalta a pecuarista Aline Kerhle.

Para exemplificar a situação, a pecuarista relembra um fato ocorrido durante uma negociação. “Uma vez, eu estava fazendo uma venda no curral. Meu marido estava comigo, o comprador não me conhecia e ele nem se dirigiu a mim, a não ser para falar bom dia e se dirigiu direto ao meu marido que respondeu que era tudo comigo, porque essa parte da venda é a minha parte na fazenda. O meu marido faz outras coisas na propriedade, mas a venda e a reprodução são a minha parte. São essas pequenas coisas que acontecem, mas a partir do momento que a pessoa te conhece, começa a lidar com você, isso acaba desde que você esteja ali profissionalmente”, complementa.

Vivian Machado também sente essa resistência, mas também compartilha da ideia, de que quando tudo é tratado com profissionalismo, o respeito é imediato. “Em alguns casos, sentimos uma certa resistência. Contudo, quando você mostra que sabe do que está falando, o respeito é imediato”, ressalta.

Para além das diferenças de gênero no setor, o fator ser mulher traz um ganho para a produção como um todo, como reforça a pecuarista Aline Kerhle. “Não existe um diferencial entre o feminino e o masculino. Mas pela criação da mulher e do homem ser diferente, é claro que a mulher tem um input diferente nos negócios do que o homem. A gente vê bastante preocupação com o bem-estar animal, com as pessoas que estão trabalhando e com a saúde mental de todos no processo. Acho que isso é um diferencial feminino”, informa. Para além da criação cultural, Vivian Machado complementa, “somos mais abertas a aprender e inovar”.

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