Nos últimos meses uma cena se repete sempre que o pastor, compositor, produtor e cantor Wesley Ros, 38, e sua equipe desembarcam nos aeroportos brasileiros. O grupo é cercado por fãs de Wesley Safadão que pedem por autógrafos e fotos. Com mais de 20 anos de carreira, o cantor evangélico já sabe como lidar com os fãs, mas o assédio aumentou depois que Safadão estourou no Brasil.
“É inevitável. As pessoas veem as nossas camisas com o meu nome escrito, além de todos os instrumentos musicais que carregamos, e nos confundem com a equipe do Safadão. Eu desminto e digo: ‘Aqui não é Safadão, não. Aqui é o Wesley Abençoadão’, contou ao UOL.
Embora a única semelhança que Ros tenha com Safadão seja o nome, a “wesleymania” em torno do pastor não é muito diferente do forrozeiro. O artista evangélico já fez shows em festivais religiosos para mais de 40 mil pessoas (lotação de um estádio de futebol) e, não raro, suas apresentações solo atraem entre 5 a 7 mil pessoas (lotação de um Citibank Hall).
Em seu currículo, ele guarda produções de bandas como Polegar, Twister,Robinson Monteiro, além dos discos infantis de Mara Maravilha. No exterior, já gravou até em Abbey Road, o lendário estúdio britânico imortalizado pelos Beatles. Mas são com os artistas gospel que ele se destaca. Mesmo em tempos de crise, muitos desses cantores vendem mais de um milhão de cópias, como Rose Nascimento, Shirley Carvalhães e o deputado federal e pastor Marco Feliciano.
Inspiração divina
O visual de Ros também está mais para cantor de rock do que para pastor. A explicação é simples. “Não tenho o estereótipo de crente. O que define o crente é o seu comportamento não a roupa. Tem uma galera de terno e gravata aí que o comportamento é um desastre”, diz.
Ter bom comportamento, porém, não é exclusividade dos evangélicos. Até Safadão pode ser usado como exemplo. “O Safadão é 99% anjo, mas tem aquele 1% vagabundo, né?”, brincou. “Mas nem tudo é 100%. Eu, por exemplo, sou 99% crente, mas tem aquele 1% duvidoso”.
Algumas composições do pastor também ganharam destaque fora do meio evangélico. A faixa “Este é o Meu Deus”, por exemplo, foi gravada pelo padre católico Alessandro Campos. Como guitarrista, Wesley admira músicos como Eddie Van Halen, Joe Satriani e Yngwie Malmsteen. “Não quero saber se eles são católicos, satanistas ou budistas. São seres humanos fazendo um trabalho de arte com inspiração divina. Eu acho que o diabo não dá essa inteligência para as pessoas. Talento vem de Deus”, pregou.
O artista, no entanto, tem uma interpretação pouco ortodoxa para o axé “Sorte Grande (Poeira)”, de Ivete Sangalo. “Uma amiga me trouxe uma ‘revelação’ ao ler a música da Ivete”, contou. “A letra diz: ‘A minha sorte grande foi você cair do céu. Minha paixão verdadeira’. E quem caiu do céu? Satanás, que é um anjo querubim caído”, analisou.
Homenagem do Raul Gil
Pastor da Assembleia de Deus do Bom Retiro, Wesley Ros vem de uma família pobre. Seu pai era pedreiro e a mãe empregada doméstica. “Eu vendia chocolate nos trens de São Paulo”, lembrou.
Esse passado pobre motivou Ros a fazer uma missão no Haiti para ajudar as crianças carentes de lá. Por conta deste trabalho, em dezembro do ano passado, ele ganhou uma homenagem de quase 30 minutos no “Programa Raul Gil” (SBT). “Aquelas crianças só comem três vezes por semana”, disse. “Voltei me sentindo o homem mais rico do mundo. Fui cheio de problemas e quando voltei, vi que meus problemas não são nada”.
O trabalho social ajuda Ros a manter os pés no chão. Mesmo sendo uma referência no meio gospel, ele ainda está longe do salário astronômico de Safadão, que está ganhando quase R$ 1 milhão por show. “Dependendo do tamanho da banda que levo para os shows, meu cachê, às vezes, sai por R$ 15 mil. Meu objetivo não é enriquecer e sim evangelizar”.
Com informações UOL